Dificuldades alimentares na infância podem levar a problemas psicológicos

Ser forçado a comer de maneira coerciva pelos pais pode afetar o desenvolvimento psicológico e facilitar casos de depressão e até delinquência
(Thinkstock)
 
Mais da metade das mães brasileiras acredita que o filho não come bem. Em um levantamento feito com 947 mães brasileiras de crianças entre 3 e 10 anos, descobriu-se que 51% delas diziam ter filhos com dificuldades alimentares. Essa dificuldade da criança para se alimentar pode estar relacionada a alguma condição médica ou a problemas comportamentais. Em ambos os casos, há riscos de déficit nutricional que, em casos severos, podem prejudicar o desenvolvimento na infância. Quando o problema é comportamental, no entanto, os riscos podem ser ainda mais amplos. Pesquisas internacionais demonstram que crianças que são forçadas a comer, que são extremamente seletivas ou que desenvolvem um sentimento de medo em relação à alimentação, têm mais chances de apresentar problemas psicológicos, como depressão e delinquência, quando chegam à adolescência.
 
A situação é agravada por um problema estrutural na medicina: nenhum pediatra sai da faculdade com o treinamento necessário para reconhecer essas dificuldades, muito menos para orientar os pais. Das mães ouvidas no levantamento brasileiro, 70% procuraram um pediatra para resolver o problema, mas apenas 11% disseram ter obtido uma orientação satisfatória. "O pediatra não recebeu, dentro da faculdade e da residência, um treinamento adequado para diagnosticar e tratar esse tipo de problema", diz Mauro Fisberg, pediatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e um dos responsáveis pelo levantamento. Os números brasileiros não são uma exclusividade. Segundo os especialistas, os resultados encontrados aqui refletem uma tendência mundial.
 
Por isso é importante saber o que fazer com filhos que relutam em comer. As dificuldades alimentares da infância costumam ter início na fase em que a criança tem contato com alimentos pastosos — por volta dos seis meses, quando as papinhas são introduzidas na dieta. Entre dois e três anos, a criança enfrenta também uma oscilação natural de apetite. A reação dos pais a esse comportamento de rejeição ao alimento pode ser fundamental na maneira como ela passará a enxergar o ato de se alimentar. "Não adianta colocar uma pressão enorme nas costas da mãe dizendo que a criança precisa comer mais. Isso pode ter resultados piores do que uma deficiência nutricional", diz Benny Kerzner, gastroenterologista pediátrico do Children’s National Medical Center, em Washington, nos Estados Unidos. Responsável pela implementação da Divisão de Gastroenterologia e Nutrição do Centro, Kerzner viaja pelo mundo dando treinamento em nutrição infantil, e falou ao site de VEJA durante sua passagem pelo Brasil.
 
De acordo com Kerzner, nos casos mais conhecidos (e dominados) pela medicina, o problema alimentar da criança pode ter raízes orgânicas, como a disfagia (problemas de deglutição) ou mesmo uma deficiência cardíaca. Quando causas fisiológicas são descartadas, é preciso investigar a sério as questões comportamentais. "Quando a mãe diz que há um problema, o pediatra tem que encarar que há, de fato, um problema", diz Kerzner.
 
Fonte: Veja

Ver TV por mais de três horas diárias pode aumentar risco de comportamentos antissociais em crianças


De acordo com pesquisadores, esse risco, porém, é muito pequeno, e não se aplica a computadores ou jogos eletrônicos
 
Crianças que ficam três ou mais horas diárias na frente da televisão apresentam um risco maior de desenvolver comportamentos antissociais, como brigar. Mas, de acordo com os autores de um estudo publicado online nesta segunda-feira no periódico Archives of Disease in Childhood, esse risco é muito pequeno. Eles também afirmam que o tempo passado em atividades como jogos eletrônicos e de computador não influencia o comportamento das crianças.
 
Para estudar o impacto do excesso de tempo vendo TV, os pesquisadores utilizaram informações de 11.014 crianças do Reino Unido nascidas entre 2000 e 2002. As mães dessas crianças responderam questionários sobre o comportamento dos filhos, abordando temas como sintomas emocionais, problemas de atenção, dificuldades em fazer amigos e preocupação com outros. Elas também relataram quanto tempo os filhos passavam assistindo televisão, no computador ou em jogos eletrônicos. Essas informações foram dadas quando as crianças tinham cinco anos, e novamente aos sete anos.
 
Aos cinco anos, quase dois terços das crianças assistiam televisão por uma a três horas diárias, enquanto 15% assistiam por mais de três horas e menos de 2% não assistiam. Nessa idade, elas passavam menos tempo jogando: apenas 3% passavam três horas ou mais nessa atividade.
 
Risco aumentado – Os autores concluíram que assistir a televisão por três horas ou mais está associado a um pequeno aumento do risco de comportamentos antissociais em crianças de cinco a sete anos. Porém eles não encontraram relação entre o tempo passado em frente à televisão e problemas emocionais ou de atenção.
 
O tempo gasto com jogos também não apresentou impacto. "Isso pode significar que as crianças nessa idade estão menos expostas a jogos eletrônicos ou que os pais impõem mais restrições a este tipo de atividade", escrevem os autores.
 
De acordo com eles, a relação entre o tempo passado em frente a telas e problemas de saúde mental pode ser indireta, ou seja, pode ser derivada do aumento do sedentarismo, dificuldades para dormir e prejuízos no desenvolvimento da linguagem.

Fonte: Veja

Álcool na gestação prejudica desenvolvimento cognitivo da criança

Pesquisa mostrou que o malefício pode se manifestar na idade escolar
Crédito: Shutterstock
 
Todas as mulheres sabem que beber durante a gravidez é totalmente contraindicado. Porém, muitas gestantes ainda deixam de lado essa medida e acabam consumindo algumas doses de álcool, achando que um drink ou outro de vez em quando não faz mal. Mas, faz, principalmente no desenvolvimento futuro da criança.
 
De acordo com uma nova pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o consumo de álcool durante a gestação pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo das crianças quando estas estiverem em idade escolar.
 
Segundo o estudo brasileiro, as crianças cujas mães admitiram a ingestão de álcool em uma quantidade de três ou mais doses por mais de nove dias durante toda a gestação tiveram pontuação média menor no teste de avaliação cognitiva a que foram submetidas. O estudo apresentado pela psicóloga Luciana Inácia de Alcântara aponta ainda que os meninos, filhos destas mães, apresentaram problemas comportamentais.
 
Essa característica ainda pode gerar muitos problemas de aprendizagem, pois o desenvolvimento cognitivo está relacionado à abstração, atenção, linguagem receptiva, função executiva, concentração, memorização e ao julgamento crítico. “Mesmo em uma amostra relativamente restrita de mães e crianças e, com dados por vezes conflitantes em relação ao consumo de álcool durante a gestação referido pelas mães, associações significativas, mesmo com uso leve e moderado de álcool, foram observadas” conta a pesquisadora.
 
Avaliações
 
Para a realização da pesquisa, a psicóloga Luciana entrevistou pais e cuidadores de 86 crianças entre 8 e 9 anos, cujas mães, em 2001, no terceiro trimestre de gestação, foram questionadas sobre o consumo que faziam de álcool. Essas mulheres frequentavam, na época, um serviço obstétrico da rede pública no município de Ribeirão Preto.
 
Mais recentemente, já com esses filhos frequentando o ensino fundamental, os pais ou cuidadores foram submetidos ao teste chamado Child Behavior Checklist (CBCL 6-18 anos), que permite que se avalie saúde mental de crianças por meio de perguntas feitas aos pais. Já a avaliação cognitiva das crianças, iniciada em agosto de 2009 e finalizada em outubro de 2010, visava estimar a capacidade de raciocínio geral delas e foi feita por um teste individual e não-verbal, comumente aplicado entre os 3 anos e 6 meses e 9 anos e 11 meses de idade.
 
Segundo dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid) de 2005, 5,7% das mulheres consomem bebida alcóolica, e um estudo publicado em 2007 pelo grupo da pesquisa em Ribeirão Preto apontou que 22% das mulheres fazem uso de álcool durante a gravidez.
 
Fonte: Uol

Estudo relaciona depressão infantil e doenças cardíacas

Pesquisadores descobriram que adolescentes que foram diagnosticados com o problema psicológico na infância são mais propensos a apresentar fatores de risco ao coração, como obesidade, tabagismo e sedentarismo
 
(ThinkStock)
 
Um novo estudo da Faculdade de Medicina da Universidade Washington em Saint Louis, nos Estados Unidos, sugere que a depressão infantil pode aumentar o risco de crianças sofrerem de problemas cardíacos ao longo da vida. Isso porque, segundo a pesquisa, o problema psiquiátrico torna os jovens mais propensos a apresentar fatores de risco à saúde do coração, entre eles obesidade, tabagismo e sedentarismo, mesmo se eles não tiverem mais depressão. Esses achados foram apresentados neste final de semana durante o encontro anual da Sociedade Americana Psicossomática, em Miami.
 
De acordo com Robert Carney, professor de psiquiatria da Universidade de Washington e coordenador do estudo, há anos as pesquisas vêm mostrando que adultos depressivos correm um risco maior de ter problemas cardíacos. “Nós já sabíamos da associação entre a prevalência do transtorno mental e as chances de eventos cardiovasculares. O que nós desconhecíamos era em que estágio da vida é possível começar a perceber essa relação.”
A pesquisa de Carney envolveu 500 crianças, que foram acompanhadas de seus nove aos 16 anos de idade. Esses jovens faziam parte de um entre três grupos: um formado por aqueles que já haviam sido diagnosticados com depressão quando a pesquisa começou; outro, pelos irmãos desses jovens, que por sua vez não sofreram depressão ao longo do estudo; e, por último, um grupo de controle, formado por indivíduos livres do problema e que não tinham laços familiares com os outros voluntários.
 
Do transtorno mental ao coração — Quando os adolescentes foram avaliados aos 16 anos de idade, os pesquisadores descobriram que 22% entre aqueles que apresentavam depressão aos nove anos eram obesos. Essa prevalência entre os seus irmãos foi de 17%, e de apenas 11% entre o grupo de controle. Além disso, cerca de um terço dos jovens que tinham depressão quando criança se tornou fumante ativo, em comparação com os 13% entre os seus irmãos e 2,5% entre os participantes do grupo de controle.
Ainda segundo os resultados do estudo, os adolescentes que haviam sofrido de depressão na infância foram os mais sedentários entre todos os participantes, e os membros do grupo de controle, que passaram a infância e a adolescência livres do transtorno, os mais fisicamente ativos. De acordo com os autores da pesquisa, embora os resultados mostrem uma associação entre depressão e risco ao coração, ele não estabelece uma relação de causa e efeito — ou seja, não é possível dizer que a depressão provoca diretamente problemas cardíacos, mas sim que aumenta a propensão a fatores de risco cardiovascular.
 
“Em partes, isso é preocupantes pois estudos recentes mostraram que quando os adolescentes apresentam esses fatores de risco cardíaco, eles são muito mais propensos a desenvolver doenças do coração quando adultos e até mesmo a ter uma vida mais curta. Pesquisas mostram, por exemplo, que jovens que são fumantes ativos têm o dobro de chance de morrer aos 55 anos do que não fumantes, e vemos quadros semelhantes em relação à obesidade nessa faixa-etária. Então, a associação entre depressão infantil e tais fatores de risco sugere que nós precisamos monitorar de perto as crianças diagnosticadas com depressão”, diz Carney.
 
Fonte: Veja

Jogar games uma hora por dia ajuda a ‘treinar’ o cérebro

Novo estudo mostrou que o hábito melhora, de fato, as habilidades cognitivas, mas apenas aquelas que são exigidas durante um determinado jogo
 
 
Jogar videogame durante uma hora todos os dias já é o suficiente para surtir efeitos positivos na cognição de uma pessoa. Mas, de acordo um estudo da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, o hábito treina o cérebro apenas em relação a tarefas cognitivas específicas que são exigidas em cada jogo. Os resultados da pesquisa foram publicados nesta quarta-feira no periódico PLoS One.
 
Segundo os autores do estudo, embora trabalhos anteriores tenham observado que jogos de ação beneficiam a cognição, esta é a primeira vez em que uma pesquisa mostra que diferentes tipos de jogos - e não só os de ação - podem melhorar habilidades cognitivas distintas.
 
O estudo selecionou 75 pessoas com uma idade média de 21 anos que foram distribuídas em cinco grupos. Cada grupo foi orientado a jogar, em um smartphone, um tipo de jogo durante uma hora por dia. Entre os jogos, havia tanto os de ação, como um em que era preciso encontrar objetos escondidos em um curto espaço de tempo, mas também de outros tipos, como aqueles que consistiam em, por exemplo, combinar três objetos idênticos ou jogar algo parecido com o The Sims.
 
Desempenhos - Antes e depois do período em que os participantes deveriam passar jogando os games, eles realizaram testes que avaliaram diversas capacidades cognitivas de cada um. De acordo com os resultados, as pessoas melhoraram seu desempenho especificamente nas tarefas que eram exigidas nos jogos. Por exemplo, as pessoas que jogaram desafios de ação melhoraram a sua capacidade de rastrear objetos em um curto espaço de tempo. Aquelas que se dedicaram a jogos em que era preciso combinar três objetos semelhantes, por sua vez, melhoraram a atuação em testes de memória visual.
 
Segundo as conclusões do estudo, portanto, o videogame não parece provocar uma melhora em todas as habilidades cognitivas, mas sim das capacidades exigidas nos jogos. “No geral, esses resultados sugerem que muitas melhorias cognitivas relacionadas aos jogos provavelmente não se devem ao treinamento de sistemas cognitivos gerais, como o controle da atenção, por exemplo, mas sim devido a processos cognitivos que acontecem durante o jogo”, escreveram os autores.
 
Fonte: Veja

Crianças que não enfrentam seus medos têm risco maior de ansiedade


Segundo pesquisa, jovens que costumam evitar situações das quais têm medo, diferentemente daqueles que as enfrentam, aumentam seus níveis de ansiedade
 

Um novo estudo da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, descobriu que crianças que, em vez de enfrentar, evitam situações das quais sentem medo são aquelas que apresentam um maior risco de ter ansiedade. Segundo os autores dessa pesquisa, esse achado é importante pois poderá ajudar os profissionais a identificarem melhor quem são as crianças mais propensas a ter esse transtorno e, assim, direcioná-las a abordagens que previnam a ansiedade. O trabalho foi publicado na edição deste mês do periódico Behavior Therapy

Participaram da pesquisa mais de 800 jovens de sete a 18 anos. Para realizar o estudo, os pesquisadores desenvolveram dois questionários, um que deveria ser respondido pelas crianças e outro, por seus pais. Ambos os relatórios tinham como objetivo avaliar as medidas de precaução tomadas pelas crianças. Ou seja, a equipe desejava saber se esses jovens, quando sentiam medo de alguma coisa, enfrentavam a situação depois ou simplesmente tentavam manter-se afastados dela o máximo possível.

Uma das conclusões da pesquisa foi a de que mensurar essa precaução das crianças pode ajudar a determinar o risco de elas terem ansiedade. Isso porque, um ano após a realização do estudo, a maioria dos jovens manteve seus níveis de ansiedade estáveis – ou seja, muito baixos. No entanto, entre os participantes que costumavam evitar situações em que sentiam medo, esses níveis tenderam a crescer depois de 12 meses.

No artigo, os pesquisadores explicam que crianças que evitam enfrentar os seus medos sofrem pois não sabem que eles podem ser administrados. Assim, para alguns jovens, determinados temores podem se intensificar de tal forma que se tornam parte de um transtorno de ansiedade. "Quando as crianças começam a evitar situações de medo, a ansiedade pode se tornar particularmente incapacitante, impedindo a participação dos jovens em atividades diárias", escreveram os autores em um comunicado da Clínica Mayo.

De acordo com os pesquisadores, terapias cognitivas e comportamentais são capazes de ajudar crianças que evitam situações das quais sentem medo — os pais dos 25 jovens que participaram do estudo e que foram submetidos a essa abordagem relataram que a frequência desse problema foi reduzidA pela metade em um período de um ano. Por isso, concluiu a equipe, essa terapia pode ajudar a prevenir a ansiedade em crianças que apresentam esse comportamento.

Fonte: Veja

Reflexão

Trecho do texto de Martha Medeiros publicado no jornal Zero Hora em 03/02/13 (Via Ana Romero)

Fotos de crianças de todo o mundo com seus bens mais valiosos

Ao longo de um período de 18 meses, o fotógrafo italiano Gabriele Galimberti realizou o projeto Toy Stories, que  compila fotos de crianças de todo o mundo com suas grandes posse, seus brinquedos. Galimberti explora a universalidade da criança em meio à diversidade dos cantos incontáveis ​​do mundo.

Galimberti descobriu que as crianças nos países mais ricos eram mais possessivas com seus brinquedos, o que levou tempo antes das crianças permitirem que ele brincasse (que é o que ele iria fazer antes de organizar os brinquedos), enquanto que nos países mais pobres, ele achou muito mais fácil e rápido a interação, mesmo se houvesse apenas dois ou três brinquedos entre eles.

Alessia – Castiglion Fiorentino, Italy

Watcharapom – Bangkok, Thailand

Tangawizi – Keekorok, Kenya
 

Stella – Montecchio, Italy

Shaira – Mumbai, India

Pavel – Kiev, Ukraine

Orly-Brownsville,Texas

Norden – Massa, Morocco

Keynor – Cahuita, Costa Rica

Julia – Tirana, Albania

Cun Zi Yi – Chongqing, China

Chiwa – Mchinji, Malawi

Botlhe – Maun, Botswana

Bethsaida – Port au Prince, Haiti

Arafa & Aisha – Bububu, Zanzibar


 

Por que é tão difícil colocar limites no seu filho

Os pequenos tiranos de hoje são resultado do encontro de duas gerações sem limites, diz Tania Zagury, mestre em educação e autora de "Limites Sem Trauma" (Record).
 
"Quem está criando filhos agora são os que já tiveram liberdade na infância e estão frente a uma situação que não vivenciaram: os filhos deles também querem fazer de tudo. A liberdade da criança acaba tirando a dos pais."
 
Zagury fez um estudo com 160 famílias no início dos anos 1990, quando já identificava o surgimento da tirania infantil. "Os pais dos anos 1980 tinham sido criados de forma dominadora e queriam uma educação liberal."
 
Entre os anos 1970 e 1980 a criança se tornou ator da história, segundo Mary Del Priore, organizadora do livro "História das Crianças no Brasil" (Contexto).
 
A tendência começou depois da Segunda Guerra. Ao mesmo tempo, surgiram leis de proteção à infância, jovens ganharam visibilidade no cinema e na publicidade e as famílias diminuíram.
 
"A mulher [que trabalha fora e começa a tomar pílula] passa a querer ter menos filhos para criá-los bem. E a criança ganha lugar como consumidora. Há uma transformação no papel dos pais", afirma a historiadora.
 
CRISE DE AUTORIDADE
 
O problema é que a balança foi toda para o outro lado: da rigidez à frouxidão, analisa o psicanalista Renato Mezan, professor da PUC-SP. "Por um lado, é um avanço social, há mais diálogo na família e mais decisões consensuais. Mas, por outro, os pais têm medo de exercer a autoridade legítima. É uma crise de autoridade generalizada."
 
Há também uma inversão de papeis, segundo a pedagoga Adriana Friedmann, doutora em antropologia e coordenadora do Nepsid (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento).
 
"Há uma 'adultização' precoce e, ao mesmo tempo, um prolongamento da infância", diz. "Não dá para culpar só os pais. Todos são vítimas da tendência sociocultural. As crianças estão expostas a um grande número de estímulos e influências da mídia."
 
Para a psicanalista Marcia Neder, os pais se sentem obrigados a mimar os filhos e há muitas exigências em torno de um ideal da mãe perfeita. "Fica difícil dizer 'não' em uma sociedade que trata a criança como um deus."
 
A blogueira Loreta Berezutchi, 29, sente na pele as cobranças do que ela chama de "filhocentrismo". Loreta é mãe de Catarina, 3, e Pedro, 5. O menino não dá muito trabalho, mas Catarina...
 
"Ela está sempre batendo o pé. Empaca quando não quer sair de casa e quer escolher a roupa que vai usar. Às vezes, quer blusa de frio no calor e é difícil fazê-la mudar de ideia", conta.
 
Além de comprar "as brigas que valem a pena" com a filha (como não deixá-la viver só de bolacha e iogurte), Loreta tenta não ser guiada pela concorrência que há entre mães blogueiras para ver quem é a "mais mãe", ou seja, a que mais paparica sua prole (ela escreve no www.bagagemdemae.com.br).
 
"Na hora de apontar o dedo, todo mundo aponta. 'Ah, meu filho só come comida saudável e o seu toma refrigerante'. Você se sente culpada por não ser o modelo de mãe que cozinha para o filho, dá água mineral etc.", diz.
 
Ela admite que sua vida hoje gira em torno dos rebentos e acha que faz parte do pacote. "Eu estava preparada para isso quando decidi ser mãe. Mas faz falta ter uma vida social que não os inclua."
 
Enquanto a criança ainda é um bebê, é normal que a vida da família seja pautada pelas necessidades dela, de acordo com Zagury. "Mas, a partir dos três, quatro anos não precisa ser assim. Os pais devem dar proteção aos filhos, não sua própria vida."
 
MAMÃE EU QUERO
Encontrar o equilíbrio pode ser complicado quando a criança tem entre dois ou três anos, aponta Friedmann. "Elas estão na fase de se descobrirem como pessoas com identidade única. Nesse período, há uma necessidade da afirmação do eu, por isso experimentam um jogo de força com os adultos."
 
É fundamental os pais terem clareza sobre quais regras vão impor aos filhos. Só assim conseguirão ser firmes.
 
"Os limites devem ser colocados na primeira infância, quando se constroem as bases da personalidade", acrescenta Friedmann.
 
A psicopedagoga Maria Irene Maluf, membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia, lembra que regras dão segurança. "A opinião da criança não deve ser ignorada, mas ela não sabe escolher o que é melhor para ela. Ninguém nasce autônomo."
 
No fundo, mesmo os mais rebeldes gostam de saber até onde podem ir, complementa a também psicopedagoga Betina Serson. Para quem tem um déspota mirim em casa, ela recomenda começar a disciplina estabelecendo uma rotina (veja mais orientações ao lado).
 
"A ideia de que colocar limites pode ser danoso à criança é 'idiota'", afirma Mezan. Segundo ele, a inexistência de regras gera ansiedade dos dois lados.
 
"Qualquer renúncia ao prazer imediato passa a ser vivida como uma frustração insuportável pela criança. Muitas vezes, porque seu desejo é logo satisfeito, ela acaba valorizando pouco o que tem", afirma.
 
Fonte: Folha

Diga sim à disciplina positiva e não à punição física!(Positive parenting, not physical punishment)

John Fletcher, Editor
Publicado no periódico científico CMAJ –Canadian Medical Association Journal
Tradução: Dra. Ligia Moreiras Sena
Revisão: Dra. Andreia Mortensen

Dar palmadas é errado?Obviamente, bater em qualquer pessoa em momentos de raiva ou quando faltam argumentos é um mau comportamento. Bater em criança é dar um mau exemplo e ensiná-la que a violência é uma forma de conseguir aquilo que se deseja. E o que dizer então quando palmadas são dadas como forma de impor limites e disciplinar?

Muitos pais tem interesse nessa questão. Afinal, pais que usam de punição física são maus pais?
Se sim, então eles estão na companhia de cerca de 90% dos pais da minha geração (1), incluindo 70% dos médicos de família e 60% dos pediatras que consideram as palmadas em crianças aceitáveis em certas circunstâncias (2). Nos EUA, a proporção de pais que batem em suas crianças atualmente ainda é alta, quase 50% (3).
Muitos pais afirmam que um bom tapa os ensinou o que é certo e errado e que, portanto, as palmadas são válidas para ensinar bom comportamento.


Os opositores do castigo físico argumentam que as crianças têm o direito de serem protegidas contra agressões físicas. Alguns afirmam que a punição física é, inevitavelmente, uma forma de violência, e que as palmadas também devem ser classificadas como crime e que pais deveriam ser processados por punir as crianças dessa maneira.

Esse debate é tão fervoroso e já dura tanto tempo, que a questão sobre se a palmada é moralmente “certa ou errada” nunca chegará a um consenso. Parece ser mais promissor, entretanto, investigar se as palmadas são realmente eficazes.

Nesse contexto, entra então uma meta-análise realizada pelos pesquisadores Durrant e Ensom (4), que analisaram pesquisas feitas nos últimos vinte anos sobre o tema. Os resultados sugerem que a punição física em crianças está associada ao aumento dos níveis de agressão infantil, além de não ser mais efetivo em estimular a obediência quando comparado a outros métodos. Além disso, a punição física durante a infância está associada a problemas de comportamento na vida adulta, incluindo depressão, tristeza, ansiedade, sentimentos de melancolia, uso de drogas e álcool, e desajuste psicológico geral. O artigo pode parecer inclinado a uma direção em particular, mas isso acontece justamente porque existem mais evidências que apoiam este ponto de vista do que sugerindo que a punição física seja benéfica.

Os defensores da palmada podem argumentar que isso depende da intensidade e frequência de palmadas, sugerindo que as palmadas são benéficas quando não utilizadas em excesso. Pode ser possível, mas sempre me pareceu que as pessoas que usam essa linha de raciocínio, diante das claras evidências de danos das palmadas, estão mais tentando justificar seus próprios atos do que enfrentando a possibilidade de que estejam erradas.

Como existe pouca evidência sobre sua efetividade e, por outro lado, um crescente número de evidências mostrando que causam prejuízos, as palmadas devem ser criminalizadas e os tribunais devem chamar a atenção dos pais por utilizarem esta forma de disciplina? Já houve um debate fervoroso sobre esse assunto em nosso website, em resposta ao artigo de Durrant e Ensom. Mas muitos pais, incluindo aqueles que batem nos seus filhos, realmente os amam e estão tentando ser bons pais. Se o objetivo é melhorar a forma de disciplina, então chamar a polícia é a abordagem errada.
O que deve ser feito é reeducar os pais sobre como disciplinar suas crianças. Simplesmente desencorajar a punição física não é suficiente. Sem alternativas, os pais que cresceram apanhando e que disciplinam com palmadas podem simplesmente substituí-las por gritos ou outras formas de punição. Como ensinar a toda uma geração de pais formas melhores de disciplinar seus filhos?
Cursos para pais têm feito sucesso em ensinar técnicas de disciplina positiva. Considerando que uma grande porção da população precisa ser ensinada, a educação precisa ir além das famílias com problemas evidentes. Esses programas devem ser oferecidos amplamente, talvez juntamente com o pré-natal ou quando a criança está prestes a entrar na escola, épocas nas quais os pais estão vivendo mudanças e são mais receptivos à educação.
Entretanto, não são apenas os pais que precisam mudar, a lei precisa ser modificada também. Embora não seja necessário criminalizar a palmada para encorajar formas alternativas de disciplina, a seção 43 do Código Criminal Canadense (6) apresenta mensagem equivocada ao afirmar que “...pais ou mães podem usar a força física como forma de correção... a não ser que a força exceda o razoável, dadas as circunstâncias”.
(comentário da revisora: afinal QUAL é a medida razoável de força física que pode ser aplicada nas palmadas?)
Os policiais têm autonomia para decidir quando a agressão ‘passou do ponto’ ou não, tanto no caso de crianças quanto de adultos. Mas, obviamente, a tendência deveria ser a de proteger a criança, que é o lado mais vulnerável. Ter um código específico que permita aos pais bater nelas como forma de disciplina é sugerir que a agressão por um dos pais é normal e aceitável da educação das crianças. E não é. Então, enquanto a seção 43 permanecer na lei, isso servirá como desculpa constante para que os pais continuem utilizando e acreditando em um método ineficaz para disciplinar crianças, embora abordagens melhores existam.Já passou da hora do Canadá retirar de seus estatutos essa desculpa ultrapassada e ineficaz de disciplina.
Referências:
1. Straus MA, Stewart JH. Corporal punishment by American parents: national data on prevalence, chronicity, severity, and duration, in relation to child, and family characteristics. Clin Child Fam Psychol Rev 1999;2:55–70.
2.
McCormick KF. Attitudes of primary care physicians toward corporal punishment. JAMA 1992;267:3161–5.
3.
MacKenzie MJ, Nicklas E, Brooks-Gunn J, et al. Who spanks infants and toddlers? Evidence from the fragile families and child well-being study. Child Youth Serv Rev 2011;33:1364–73.
4.
Durrant J, Ensom R. Physical punishment of children: lessons from 20 years of research. CMAJ 2012;184:1373–6.
5.
Barlow J, Smailagic N, Ferriter M, et al. Group-based parent-training programmes for improving emotional and behavioural adjustment in children from birth to three years old. Cochrane Database Syst Rev 2010;(3):CD003680.
6. Barnett L. The “spanking” law: section 43 of the Criminal Code. Ottawa (ON): Parliament of Canada; 2008. Available: www.parl.gc.ca/content/LOP/ResearchPublications/prb0510-e.htm (accessed 2012 June 26).
 

Como os pais podem favorecer o desempenho de crianças



Dentre as várias definições trazidas pela literatura, Fonseca (1995) define o termo dificuldades de aprendizagem como um conceito geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e/ou do raciocínio matemático.
Machado (1993) afirma que crianças com dificuldades de aprendizagem podem apresentar comportamentos de passividade, isolamento, apatia ou agressão, além de comportamentos encobertos como medo, frustração, raiva e outros. Além disso, Condemarim e Blomquist (1989 apud Peres, 1999) destacam que estas crianças apresentam: desinteresse pela leitura (levando a um menor contato com o material, o que contribui ainda mais para sua dificuldade); comportamentos passivos e falta de iniciativa; sentimentos de culpa frente suas dificuldades; e esquiva de situações que exigem participação ativa (evitando futuros fracassos).
 
Qualquer problema ou dificuldade de um indivíduo, na perspectiva da Análise do Comportamento, deve ser analisado em termos de comportamento, levando em conta a história – ontogenética, filogenética e cultural –, bem como as condições conseqüentes à emissão do comportamento em questão. Nesse contexto, os pais podem funcionar como agentes de mudanças ambientais e comportamentais (Sampaio, Souza e Costa, 2004), alterando as condições antecedentes, modelando as respostas envolvidas no processo de execução de atividades acadêmicas e conseqüenciando-as adequadamente.

Considerando que a família é o primeiro contato social da criança e é com ela que a criança passa a maior parte do seu tempo, é de extrema importância que os pais participem da vida acadêmica do filho (Souza, Goyos, Campaner e Silva, 2004). Esse envolvimento parental diz respeito às interações dos pais na realização dos trabalhos escolares do filho e ao encorajamento verbal e reforço direto de comportamentos, o que supõe suporte e monitoramento das atividades diárias, contribuindo para produzir melhoras no desempenho acadêmico da criança (Ferhaman, Keith e Reimers, 1987). O envolvimento ainda abrange idas à escola e participação em reuniões diversas e discussões sobre questões relacionadas ao ambiente familiar (SOARES, SOUZA e MARINHO, 2004).
Existem fatores, porém, que podem dificultar a participação ativa dos pais na vida escolar de seus filhos, como as mudanças constantes nas práticas de ensino, o desconhecimento dos assuntos que estão sendo trabalhados na escola, a falta de tempo, o nível de dificuldade apresentada pelo filho, os tipos de avaliações feita pela escola, os comportamentos gerais dos professores em relação aos pais e crianças, o desconhecimento de procedimentos de enfrentamento frente a problemas relacionados à vida escolar dos filhos, entre outros (SOARES, SOUZA e MARINHO, 2004).

Para que os pais possam contribuir o desenvolvimento de comportamentos facilitadores da aprendizagem dos filhos, alguns pontos devem ser levados em consideração. Esses pontos foram formulados tendo como base estudos, pesquisas e experiências descritas por vários
autores (Hübner, 2002; Marturano, 1999; Scarpelli, Costa e Souza, 2006; Soares, Souza e Marinho, 2004; Matos, 1993; entre outros) e serão descritos a seguir.
a) Estabelecimento de uma rotina organizada
Rotina se refere aos horários definidos para a realização das diversas atividades que a criança deve cumprir diariamente. A organização dessa rotina supõe a distribuição dos horários para os estudos (horário pra ir à escola, pra estudar e pra fazer tarefa) e para outras atividades (como brincar, fazer refeições e dormir).

Hübner (2002) ressalta que uma rotina sobrecarregada de atividades extra-classe interfere negativamente no desempenho escolar da criança. Quando os pais dão prioridades para outras atividades na vida dos filhos em detrimento das atividades acadêmicas, o problema se torna ainda maior.

Ferreira e Marturano (2002) fizeram um estudo buscando compreender a relação das características do ambiente familiar com o baixo rendimento escolar de crianças. De acordo com os resultados da pesquisa, as condições ambientais interferem diretamente no desempenho escolar das crianças. Segundo as autoras, a organização da rotina doméstica – que inclui atividades com horário definido e organização temporal e espacial para execução de tarefa de casa –, é um fator importante que favorece o bom desempenho escolar.
 
b) Supervisão e acompanhamento de tarefas
De acordo com a definição de Keith e Cooper (1986 apud Scarpelli, Costa e Souza, 2006) tarefa escolar é um trabalho que os professores atribuem aos alunos para ser concluído fora do período normal de aula, com o objetivo de estender a prática de habilidades acadêmicas a outros ambientes. A realização da tarefa escolar pode trazer muitas vantagens para os alunos, entre elas: o desenvolvimento de habilidades específicas (como a solução de problemas); motivação para a aprendizagem; aperfeiçoamento de hábitos de estudo e de atitudes em relação à escola; e responsabilidade (Eiliam, 2001 apud SCARPELLI, COSTA e SOUZA, 2006).
Considerando que a tarefa é realizada em casa, cabe aos pais supervisionar sua execução e verificar se a criança está cumprindo os horários estabelecidos na rotina. Pesquisas, como a de Marturano (1999), afirmam que a supervisão dos pais às tarefas dos filhos contribui diretamente com o progresso no desempenho escolar. Esta supervisão não significa fazer a tarefa pela criança ou dar a resposta correta. Quando isso ocorre, os pais reforçam positivamente o comportamento inadequado da criança (de sempre pedir e esperar pela resposta) e o comportamento dos pais é reforçado negativamente (por livrarem-se mais rapidamente da obrigação de ajudar os filhos na realização da tarefa). Tudo isso pode acarretar um aumento na freqüência dos comportamentos inadequados dos pais e dos filhos com relação ao estudo (Zagury, 2002; Soares, Souza & Marinho, 2004), o que, a longo prazo, pode trazer prejuízos ainda maiores.

c) Promoção de ambiente com recursos e instrumentos para o estudo
Um ambiente adequado para o estudo inclui um espaço físico arejado, iluminado, organizado e com pouco ruído. O ambiente apropriado somado com a disponibilidade de recursos materiais – como livros, dicionários e outros instrumentos acadêmicos – e o  
envolvimento dos pais pode favorecer o desenvolvimento acadêmico de uma criança (MARTURANO, 1999; HÜBNER, 2000; FEHRMANN, KEITH & REIMERS, 1987; entre outros).

d) Estabelecimento de interações positivas
O
s pais devem estabelecer condições que propiciem comportamentos relevantes para a educação de seus filhos. Para isso, os pais podem – e devem – incentivar, elogiar, encorajar e fornecer suporte aos filhos durante a execução da tarefa de casa, colaborando para o aumento do interesse e satisfação das crianças pelos estudos. Os elogios imediatos e contextuais relacionados às respostas da criança aumentam a probabilidade do comportamento de estudar.

Scarpelli, Costa e Souza (2006) ressaltam que a realização da tarefa é ainda uma boa oportunidade para demonstrar afeto e amor pelos filhos.

e) Exigência compatível com o desempenho da criança
É natural que os pais tenham expectativas quanto ao bom desempenho escolar do filho (Soares, Souza e Marinho, 2004). O problema é quando essa expectativa dos pais torna-se alta demais, gerando um grau elevado de frustração e um maior índice de desistência e de perda de interesse por parte da criança. É importante incentivar o filho, mas sem deixar que o anseio pelo bom desempenho traga prejuízos para a criança.

Infelizmente, muitos pais, ao invés de atentar para tais aspectos, estão mais atentos ao que
não deve ser feito e às punições pertinentes. Isso vai de encontro com o que afirma Sidman (1995): as ocasiões em que os pais mais interagem com seus filhos são os momentos de corrigir ou criticar. Muitas vezes, devido às reclamações da escola, os pais acabam acentuando o uso da punição em casa. Esse aumento no uso de conseqüências desagradáveis (broncas, sermões, castigos, humilhações, etc.) relacionadas à tarefa escolar tende a diminuir a freqüência desses comportamentos, reduzindo a probabilidade de ocorrência de comportamentos adequados em relação ao estudo.

Skinner (1953/1993) identifica lamentáveis subprodutos do uso da punição, tais como medo, ansiedade, culpa e falta de repertório socialmente adequado. Hübner e Marinotti (2000) ainda descrevem mais alguns alarmantes efeitos da utilização do sistema aversivo relacionados aos processos de aprendizagem: supressão de respostas (chamada popularmente de "branco" em provas e testes), respostas de fuga (desligar-se ou desistir), respostas de esquiva (procrastinação e lentidão) e baixo nível de autoconhecimento.

Além do uso da coerção pelos pais, crianças com dificuldades de aprendizagem cometem mais erros, e situações que geram erros são, também, punitivas (Matos, 1993). Dessa forma, o comportamento de estudar das crianças com dificuldades de aprendizagem pode ser freqüentemente punido não só pelos pais como pelo seu próprio desempenho, gerando uma diminuição na freqüência de respostas de estudar e um aumento na esquiva de situações de estudo por parte da criança. Como afirma Matos (1993), erros são aversivos e produzem paradas temporárias ou permanentes no comportamento.

Para que os filhos apresentem os comportamentos esperados pelos pais, o uso de coerção deve ser substituído pelo uso de reforçamento positivo (Silva e Marturano, 2002)
. Hübner (2002), através da sua experiência em atendimentos com pais de crianças que apresentam baixos desempenhos escolares, afirma que os pais que conseguiram mudar do

sistema aversivo para o sistema de reforçamento ou incentivo foram aqueles que obtiveram melhores resultados na evolução da vida escolar e satisfação de seus filhos.

O envolvimento dos pais com a vida acadêmica dos filhos, o estabelecimento de rotina, a reorganização do ambiente, o fornecimento de recursos e o uso de reforçamento positivo não são os únicos fatores que devem ser levados em consideração, quando se fala sobre uma criança com dificuldades de aprendizagem. As orientações do texto, se somadas com o acompanhamento de outras áreas, como a pedagógica, pessoal e social, certamente garantem uma considerável melhora no desempenho escolar dos filhos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEHRMANN, P. G.; KEITH, T. Z.; REIMERS, T. M. Home influence on school learning: direct and indirect effects of parental involvement on high school grades. Journal of Educational Research, 80 (6), 330-337, 1987.

FERREIRA, M. C. T.; MARTURANO, E. M. Ambiente familiar e os problemas de comportamento apresentados por crianças com baixo desempenho escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 15, n. 1. Porto Alegre, 2002.

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Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

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SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy II, 1995.

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ZAGURY, T. Escola sem conflito: parceria com os pais. Rio de Janeiro: Record, 2000

Por Carina Paula Costelini