Por que as pessoas mentem?


No artigo anterior em que eu escrevi sobre “como se aprende a mentir”, defini o que é a mentira e caracterizei este comportamento como sendo um comportamento verbal, e identifiquei duas maneiras de como uma criança pode aprender a mentir. A primeira foi a aprendizagem por imitação, processo em que os pais ou outras pessoas desempenham o papel de modelo para a criança. O comportamento do adulto ou de um colega é imitado, porque a criança pode observar que o outro obtém vantagens com a mentira ou até porque em outras situações, nas quais imitou o comportamento de um adulto, foi elogiado e ou incentivado por se parecer com aquela pessoa. "Olha que gracinha, ele é igual ao seu pai...".

Podem servir como modelos, também, os atores de novelas e filmes. As novelas, em particular, apresentam inúmeros personagens que são beneficiados com a mentira. Uma outra razão que pode levar uma criança a mentir é a conseqüência que o seu próprio comportamento produz. Como exemplifiquei no texto anterior, livrar-se de punições é uma das fortes razões para isto. Uma outra possível conseqüência direta do comportamento de mentir é a obtenção de benefícios, de vantagens ou de prestígio. Por exemplo, uma criança pode mentir, dizendo que está com dor de cabeça para não ter que ir para a escola. Isto pode ter começado com um fato verdadeiro: na primeira ou na segunda vez ela realmente estava doente, mas na terceira vez, a situação não era tão grave e a mãe, até por comodidade, preferiu aceitar a desculpa de seu filho ou de sua filha, para não ir para a escola.

A obtenção de vantagens ou de prestígio são as razões mais comuns que levam pessoas adultas a mentir, no dia-a-dia. Ter prestígio, ser valorizado e receber atenção são conseqüências importantes para nós que vivemos em sociedade. Naturalmente, nas diferentes sociedades, as pessoas prestigiam e valorizam aspectos diferentes de nossos comportamentos.

Uma pessoa que não é valorizada pelas suas ações e que, além disso, freqüentemente, é criticada ou punida, por ser considerada incompetente porque não é capaz de realizar uma determinada tarefa, pode desenvolver o que se chama de baixa auto-estima. Auto-estima conceituada como sendo a opinião de si, isto é, o auto-conceito (tema que abordei em outro artigo) pode, portanto, estar relacionado à mentira. Uma pessoa com uma baixa auto-estima, não confia, não tem segurança ou não valoriza aquilo que sabe fazer ou aquilo que possui e, por essa razão, pode mentir. Ela mente, por exemplo, dizendo que possui coisas e bens que não são seus, sobre sua idade, sobre o que é capaz de fazer, sobre o que já fez ou foi no passado. É importante, no entanto, observar que mentir não é aprovado socialmente, nem tão bom e fácil como parece. Se eu inventar uma história, eu tenho que sustentá-la com evidências e argumentos, para que a mentira não seja desvendada. Eu tenho que me lembrar do que eu falei em momentos posteriores e em situações bastante diferentes em que aquele assunto referente à mentira é abordado de forma sutil ou superficial. Enfim, eu tenho que manter coerência com a mentira que inventei.

No entanto, pessoas que mentem com freqüência começam a perder a noção daquilo que é verdade e daquilo que é mentira. Elas deixam de perceber que não há correspondência entre o que dizem e o que fazem ou entre o que contaram ontem e o que estão contando hoje. Por exemplo, um dia ele ou ela diz ter sido gerente de uma determinada loja, no período em que ali trabalhou. Em um outro dia, durante uma conversa sobre dificuldades enfrentadas com chefes, conta como era difícil agüentar as broncas do gerente daquela mesma loja. Assim, uma pessoa que mente o tempo todo deixa de "cuidar de suas mentiras", pois perde a noção do que é mentira. É mais fácil esquecer um fato inventado do que um fato que você vivenciou. Por esse motivo, diz-se que a mentira tem "pernas curtas".

Uma outra razão que leva uma pessoa a mentir e que não é considerada uma forma egoísta de se comportar, é quando se mente para beneficiar outra pessoa. Por exemplo, quando se faz um elogio só por fazer, sem razão real. Este é o comportamento típico do galanteador. A questão que podemos formular então é: Por que as pessoas mentem para beneficiar outras pessoas? Uma provável explicação é que elas recebem aprovação social por se comportarem de forma altruísta. Por conseguinte, no fim das contas, é em benefício próprio que elas se comportam desta forma.

Mesmo quando a mentira é altruísta, ela é facilmente identificada, sendo as pessoas mentirosas com, freqüência, socialmente discriminadas. Elas geralmente não têm amigos e os familiares apenas a toleram. Além disso, uma pessoa mentirosa dificilmente conquista um grande amor e se conquistar, dificilmente, será capaz de mantê-lo. Faltam os ingredientes principais: a intimidade, a cumplicidade e a confiança.

Verônica Bender Haydu - Professora da Universidade Estadual de Londrina e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo

2 comentários:

Unknown disse...

Bom dia, Simone! Sou pedagoga e gosto dos seus textos, além de me apropriar de alguns, divulgando seu blog na página do facebook do Colégio onde trabalho. O caso é que para ler seus textos para mim é sempre muito difícil. Como sou Míope, tanto a fonte, quanto a cor atribuída as letras não me favorecem, tendo que copiar o texto, colocá-lo no word com uma cor diferente, para assim, conseguir ler.
Agradeço a atenção e continuarei seguindo seus escritos, além de divulgá-los para os pais do Colégio.
Um abraço,
Cleide.

Simone Barbosa Pasquini disse...

Olá Cleide!!! Ótima dica, providenciarei a melhora na cor (mais escuto) e fonte!!!
bjksss
;)