Terapia cognitiva comportamental pode reduzir danos psicológicos em crianças vítimas de estupro e abuso sexual


Recente estudo demonstra que o uso da intervenção psicológica reduz drasticamente o stress psicológico causado em crianças vítimas de guerras e violência sexual.

Os pesquisadores se utilizaram de um novo tipo de intervenção baseada na terapia cognitivo-comportamental para tratar crianças que viveram em situações de guerra e estupro ou abuso sexual na República Democrática do Congo, na África central.

Os estudos apontaram que a intervenção reduziu o trauma vivenciado pelas crianças nas situações supracitadas em mais de 50%; Foram realizadas quinze sessões de Trauma-Focused Cognitive Behavior Therapy (TF-CBT), sendo que os pesquisadores descobriram reduções de 72% em sintomas traumáticos em garotas vítimas de abuso sexual, 81% de redução em sentimentos depressivos e de ansiedade, 72% em distúrbios de conduta e queda de 64% em comportamentos anti-sociais.

Os autores do estudo acreditam que o conhecimento ganho na intervenção multifatorial pode também ser usado em intervenções cognitivas no continente americano, sendo que as vítimas de abuso sexual não recebem ajuda médica ou psicológica; Na presente pesquisa, as crianças receberam sessões de psicoeducação traumática, técnicas de relaxamento, técnicas de imaginação mental e apontamentos de como identificar e alterar cognições particulares imprecisas ou inúteis.

As meninas participantes do estudo também desenharam seus eventos mais traumáticos e foram encorajadas a falar sobre tais eventos em sessões individuais com psicólogos da universidade e com conselheiros congoleses.

Segundo Paul O’Callaghan, do Departamento de Psicologia da Universidade Queen, a drástica redução em sintomas traumáticos, depressivos e de ansiedade, problemas de conduta e comportamentos antissociais demonstram quem esse tipo de terapia é extremamente efetiva no tratamento com crianças afetadas pela guerra e que foram expostas ao abuso sexual e ao estupro e, em adição aos resultados estatísticos da terapia, muitas das garotas atestaram que a intervenção reduziu os pesadelos, lembranças perturbadoras relacionadas as situações vivenciadas e pensamentos suicidas.

O estudo também tratou de 50 garotos entre 12 e 17 anos que viveram situações de guerra, demonstrando também redução nos níveis de trauma, depressão e ansiedade, distúrbios de conduta e comportamentos antissociais em meninos que viviam nas ruas e que serviram como soldados.

Informações: Queen’s University Belfast
Fonte: RedePsi

Livro para criança: Pedro e Tina, uma amizade muito especiaL

Este livro fala de amizade, admiração e convívio social. Uma história encantadora de Pedro que fazia tudo torto; se quisesse desenhar uma linha, ela saía torta; os cordões de seus sapatos nunca estavam bem amarrados. Já Tina fazia tudo certinho. Um dia, eles se encontraram e Pedro ficou encantado com o jeito de Tina fazer tudo certinho, mas Tina bem que gostaria que tudo que fizesse não fosse tão perfeito. Assim, falando da amizade entre Pedro e Tina, Stephen Michael King está nos falando da necessidade de sermos equilibrados: masculino e feminino, certo e errado, positivo e negativo.

Autor: Stephen Michael King
Ilustrador: Stephen Michael King
Editora Brinque Book
Assunto abordado: Diversidade de Personalidade, Tolerância, Respeito as Diferenças, Amizade, Admiração

Movimentos dos olhos revelam o que interessa aos autistas

Crianças diagnosticadas com o transtorno evitaram focar a atenção nas cenas que exibiam emoções humanas, durante experimento



© IGOR STEPOVIK/SHUTTERSTOCK
 
Quanto mais piscamos os olhos, menos estamos con­centrados em um estímulo visual. É o que mostram vários estudos que monitoram os movimentos oculares. Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Emory, na Geórgia, analisaram a frequência com que crian­ças autistas piscavam diante de diferentes imagens para tentar identificar seu grau de envolvimento com o ambiente ao redor e determinar se a movimentação ocular pode ser usada para o diagnóstico de graus mais leves do transtorno.

O pediatra Warren Jones Durante observou o compor­tamento de crianças entre 1 e 3 anos enquanto assistiam a vídeos. Segundo ele, as autistas piscaram mais diante de cenas que mostravam emoções humanas e mantiveram o olhar fixo quando eram exibidos objetos que mudavam de lugar ou se moviam de forma repetitiva. Desde bebês buscamos pistas de emoções em rostos, e é natural que as crianças acompanhem uma narrativa como se esperassem um resultado para o conflito em cena. Com as autistas isso não acontece. O desinteresse é comprovado pelas piscade­las constantes, o que sugere que não seguiam a linha emo­cional da história. A pesquisa foi divulgada na Proceedings of the National Academy of Sciences.

Reflexão


"O estudo do jogo pode fornecer-nos ensinamentos preciosos para a arte de inventar."

(Pascal, 1653)

Efeitos do videogame

Se por um lado jogos eletrônicos melhoram a capacidade cognitiva e o aprendizado, por outro têm grande potencial de desencadear comportamentos violentos e antissociais
Em um estudo publicado em 2005 no American Behavioral Scientist, os autores identificaram uma redução do vocabulário e da oralidade em crianças que assistiram ao programa Teletubbies. No entanto, relataram também um efeito positivo do desenho animado Clifford sobre as mesmas habilidades. Até que ponto devemos orientar nossa educação com base em resultados desse tipo? Acredito que com algumas ressalvas. Muitas das pesquisas que relacionam o uso da tecnologia e o desenvolvimento cognitivo têm limitações metodológicas – a principal delas é que há muitas variáveis que não são levadas em conta. Por exemplo, a leitura superficial das conclusões de um estudo com 800 crianças divulgado pela Pediatrics em 2009 leva a crer que o número de horas diante da TV é proporcional a um menor desenvolvimento de habilidades linguísticas. Entretanto, uma análise mais aprofundada revela que fatores como renda familiar e tempo de amamentação materna influem de forma significativa nessa associação.

Alguns são favoráveis ao uso da tecnologia, principalmente os fabricantes de jogos; outros, entre eles muitos cientistas, acreditam que a intimidade precoce com os eletrônicos pode trazer riscos. O psicólogo Douglas Gentile, da Universidade de Iowa, pesquisador dos efeitos da mídia sobre crianças e adolescentes, afirma que a questão vai além de ser contra ou favor, pois os jogos já estão inseridos na realidade de milhares de crianças no mundo.


Em um artigo publicado no Psychological Science, pesquisadores recrutaram vários pais que planejavam comprar o brinquedo para seus filhos e ofereceram o aparelho em troca da participação. As crianças foram divididas em dois grupos: algumas receberam o presente imediatamente e as outras apenas quatro meses depois. Segundo os autores, as que ganharam o jogo primeiro apresentaram redução nas habilidades de leitura e escrita em comparação com as que aguardavam para recebê-lo.


Segundo Daphne Bavelier, pesquisadora da Universidade de Rochester, em Nova York, não faz sentido falarmos em consequências unicamente positivas e negativas de assistir televisão ou jogar videogames. Como toda experiência humana, essas são também multidimensionais.

Além do uso pedagógico, os jogos também revelaram potencial para tratar e reabilitar pacientes com danos cerebrais. Os desafios virtuais ajudam a atenuar sintomas em pessoas com demência e com esquizofrenia. Os psiquiatras Doug Han, da Universidade Chung Ang, na Coreia, e Perry Renshaw, da Universidade de Utah, acreditam no potencial de jogos criados para desenvolver o comportamento social. Em um experimento com crianças com transtornos do espectro autista foi verificada modificação da atividade cerebral em áreas associadas à resposta emocional, o que sugere o efeito positivo do treinamento.


Apesar do interesse crescente da neurociência sobre o tema, os mecanismos envolvidos no estímulo da plasticidade cerebral pelo videogame ainda necessitam ser elucidados. Podemos pensar, porém, em uma situação hipotética, a de um adolescente de 13 anos que passa algumas horas por semana jogando videogame: a redução no desempenho escolar é previsível. O conteúdo violento gerará pensamentos e sentimentos de agressividade, o que poderá modificar o comportamento. Mas, como disse Daphne Bavelier, esses efeitos benéficos têm grandes chances de ser acompanhados por outros prejudiciais, como conduta antissocial e violenta. A utilização de videogames comerciais com fins educacionais é, portanto, bem controversa.

Nos últimos anos foram publicados diversos estudos cuja leitura reforça a ideia de que a aprendizagem por meio de recursos audiovisuais é muito menos efetiva do que aquela mediada por pais ou educadores. Bebês e crianças aprendem muito mais sobre o mundo quando interagem com as pessoas. Ao longo da evolução, a construção do cérebro humano tem sido calcada na interação social. É pouco provável que algum aparato tecnológico consiga substituí-la de maneira satisfatória.


Exposição infantil à violência pode levar ao desenvolvimento de distúrbios do sono

Segundo estudo realizado por pesquisadores americanos, crianças que convivem com situações de violência podem desenvolver problemas relacionados ao sono, sendo que o impacto e a severidade dos sintomas violentos podem continuar ao longo do tempo e afetar o desenvolvimento da criança.

De acordo com o estudo, a severidade da violência vivenciada pela criança está diretamente relacionada ao impacto sofrido na quantidade e qualidade do sono infantil; Percebeu-se também que a experiência violenta afeta aspectos mais profundos do sono (além de pesadelos e insônia, características já associadas a violência), como o fato da criança que envolve-se diretamente no ato violento tende a sofrer mais impacto do que o infante que somente testemunhou a violência, ou ainda um aumento gradativo de um sono inconsistente por parte da criança que presencia um homicídio.

Segundo James Spilsbury, autor do estudo, a violência permeia a sociedade de tal maneira que o próprio estudo demonstra que apenas um ato violento sofrido pela criança – seja como vítima ou testemunha – pode influenciar o comportamento do sono de diferentes maneiras, sendo que posteriormente isso afetará o desenvolvimento e saúde do indivíduo.

Crianças que não dormem bem tendem a não se desenvolver corretamente e a ter problemas comportamentais, além de tal fato estar relacionado a diversos riscos à saúde, como hipertensão, problemas cardíacos, depressão, diabetes, obesidade, entre outros.

O estudo analisou o sono de 46 crianças com idades entre oito e dezesseis anos, em sua maioria residentes de áreas urbanas; os dados foram coletados por sete dias, medindo-se a atividade durante o dia e a noite. Ao analisar-se os resultados, os pesquisadores atentaram-se a fatores como idade, sexo, aspectos familiares e exposição à violência no último ano.

“Mesmo depois de controlar os possíveis efeitos da exposição à violência durante o ano que se passou, percebemos que a severidade de eventos mais recentes tiveram influência negativa na qualidade e quantidade do sono infantil”, aponta Spilsbury.

Informações: American Academy of Sleep Medicine
Fonte: RedePsi

Sedentarismo infantil está associado aos comportamentos dos pais, diz estudo


Normalmente associa-se o sedentarismo infantil a proliferação da tecnologia, em aparelhos eletrônicos como videogames, televisões ou celulares; Porém recente estudo aponta que as crianças são inativamente ativas, e as restrições dos pais sob as crianças desenvolvem o sedentarismo nas mesmas.

O estudo, desenvolvido pela Universidade de Oregon, desenvolveu dois experimentos para examinar como o estilo de criação dos pais – pais restritivos mas amorosos, ou menos envolvidos mas mais permissivos – poderia ser associado aos comportamentos sedentários.
Os pesquisadores descobriram que as crianças gastam em média mais 30 minutos em frente à TV em cada dia da semana em uma configuração parental onde os pais admitiram gastar menos tempos com seus filhos (pais “descuidados”).

De todos os estilos parentais, percebeu-se cerca de 4 a 5 horas por dia de atividade sedentária (não contando horas de sono ou alimentação), sendo que alguns pais realizaram brincadeiras estáticas (como montar quebra-cabeças ou colorir desenhos) e declararam como atividades positivas, mas o estudo aponta que o movimento é essencial para a idade.


Os autores agruparam os pais em quatro categorias: pais autoritários (muito enérgicos e muito controladores), com autoridade (controladores e menos enérgicos), permissivos (calmos e baixo controle) e negligentes (baixo controle e enérgicos).

Infelizmente, os investigadores descobriram que todas as crianças da amostra de acerca 200 famílias eram sedentárias em períodos de quatro a cinco horas por dia; Entre os pais “negligentes”, as crianças gastaram 30 minutos adicionais por dia assistindo televisão, jogando videogame ou se entretendo em algum outro tipo de atividade que envolve-se aparelhos eletrônicos.
“Meia hora por dia não parece ser muito, mas pense isso em uma semana, um mês, e então em um ano e verá o enorme impacto causado; Uma criança poderia realizar alguma atividade física em tais quatro ou cinco horas em todas as semanas, e caracterizar isso como padrão para o resto da vida”, aponta a pesquisa.

Em relação aos fins de semana, o tempo de atividade sedentária aumentou cerca de uma hora para cada dia do fim de semana; Bradley Cardinal, coautor do estudo, aponta que os comportamentos sedentários vão contra as tendências naturais da maioria das crianças na idade pré-escolar. “Descobrimos que quando as crianças entram na escola, seus níveis de atividade física diminuem, e tende a diminuir com o passar do tempo; As atividades anteriores a esse período são extremamente importantes para o estabelecimento de padrões de estilo de vida saudáveis e para o desenvolvimento cerebral e cognitivo”, aponta Cardinal.


Em estudo paralelo, descobriu-se que os pais que ativamente brincam com seus filhos tiveram um maior impacto que qualquer outro tipo de incentivo, como apenas olhar o filho ou leva-lo a atividade.

“Quando as crianças são muito jovens, brincar é a principal atividade que costumam realizar, portanto o suporte e encorajamento parental é crucial, sendo que os pais, ao perceberem a atividade sedentária do filho, devem neutralizar esse comportamento”, conclui o estudo.
Fonte: RedePsi

Tocar, sentir, amar


“A pele, como uma roupagem contínua e flexível, envolve-nos por completo. É o mais antigo e sensível de nossos órgãos, nosso primeiro meio de comunicação, nosso mais eficiente protetor” (Montagu, 1988, p. 22).

O tato, assim como, a visão, a audição e o olfato é um dos nossos órgãos dos sentidos, sendo a pele responsável por este sentido. O sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a tornar-se funcional no ser humano. Ainda no útero materno, o bebê já responde a estímulos táteis e após o nascimento, principalmente no primeiro ano de vida, é a forma mais importante de comunicação com o bebê.

Ao tocarmos as coisas do nosso ambiente, podemos sentir a temperatura (calor, frio), a textura (liso, áspero), o peso (pesado, leve), a pressão (leve, moderada, forte), a consistência (duro, mole), a umidade, etc. No entanto, as sensações táteis não são apenas importantes para percebermos algumas das características do ambiente. As respostas que damos aos estímulos táteis são necessárias para o desenvolvimento de comportamentos complexos e para a nossa adaptação aos diversos ambientes nos quais vivemos.
 
Um estudo feito com bebês que tinham aproximadamente 2 meses de idade, cujas mães haviam sido ensinadas a acariciar frequentemente as costas dos filhos, mostrou que aos seis meses, esses bebês apresentavam uma incidência menor de gripes, resfriados, vômitos,  diarréias, do que os bebês de outro grupo, cujas mães não tinham sido instruídas a acariciar os bebês. Os resultados deste e de outros estudos mostram que tocar os bebês e também crianças maiores promove mudanças importantes nas estruturas neurológica e imunológica das mesmas.

Os benefícios do contato de pele tornaram-se, ainda, mais evidentes a partir do uso do método “canguru” com bebês prematuros. De acordo com este método, os pais são orientados a carregar seus bebês durante várias horas do dia, mantendo contato direto da pele de um com a do outro, isto é, de pele com pele. Bebês prematuros que foram submetidos a este procedimento apresentaram aceleração no desenvolvimento neuromotor, aumento da lactação e consequente ganho de peso, e um aumento significativo dos comportamentos de apego com os pais.
 
Muitas vezes, ouve-se que segurar e embalar os bebês são atitudes prejudiciais porque  podem torná-los mimados, mas os dados das pesquisas científicas mostram que tocar as crianças de forma positiva é importante para o seu desenvolvimento. Os efeitos benéficos de tocar e ser tocado são muitos e são importantes não só para as crianças, mas também para os jovens, os adultos e fundamentais para os idosos.

Acariciar, massagear, beijar, embalar, segurar e qualquer outro tipo de contato de pele positivo contribuem para o aumento da resistência ao estresse, diminuição do nível de ansiedade, aumento do comportamento exploratório das crianças, além dos efeitos imunológicos e neurológicos citados. Estes efeitos por sua vez afetam de forma positiva o desenvolvimento de habilidades sociais, de habilidades de aprendizagem e o ajustamento sexual, prevenindo o desenvolvimento de comportamentos anti-sociais.


Ser tocado é uma necessidade primária, a qual deve ser satisfeita para que as crianças possam desenvolver-se como seres humanos saudáveis. “E o que é um ser humano saudável?

É aquele que é capaz de amar, trabalhar, brincar e pensar de modo crítico e livre de preconceitos”
(Montagu, 1988, p. 193).

MONTAGU, Ashley. Tocar: o significado humano da pele. 5.ed. São Paulo: Summus, 1988.

Por: Verônica Bender Haydu - Professora da Universidade Estadual de Londrina e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo

Nos EUA, crianças e adolescentes estão tomando menos antibióticos e mais medicamentos para TDAH

Em oito anos, o número de prescrições de antibióticos a pacientes pediátricos caiu 14%. Receitas de drogas para TDAH, porém, cresceram 46%
 
Crescimento: prescrição de remédios para asma e TDAH aumentou nos últimos 8 anos, nos EUA

Segundo um levantamento feito pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão americano que regula alimentos e medicamentos, o número de prescrições de antibióticos destinadas a crianças e adolescentes é menor do que há oito anos, nos Estados Unidos. Por outro lado, são cada vez mais prescritas drogas para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e asma. O trabalho foi publicado nesta segunda-feira no Pediatrics, periódico oficial da Associação Americana de Pediatria.

Esses dados foram baseados nas prescrições médicas preenchidas no país entre os anos de 2002 e 2010 para jovens com até 17 anos de idade. De acordo com o estudo, em 2010 foram registradas 263,6 milhões de prescrições de medicamentos em geral a pessoas dessa faixa etária — 7% a menos do que em 2002. As prescrições para pacientes adultos, porém, aumentaram em 22% nesse mesmo período.

O levantamento indicou que, nesses oito anos, as prescrições de antibióticos a bebês, crianças e adolescentes caiu 14%, embora esse tipo de remédio ainda seja o mais frequentemente fornecido para pacientes pediátricos no país. Além dos antibióticos, também foram menos prescritos medicamentos para alergia (-61%), tosse e resfriados (-42%), dor (-14%) e depressão (-5%). Por outro lado, aumentou o número de prescrições para anticoncepcionais (+93%) e remédios para tratar TDAH (+46%) e asma (+14%).

TDAH — Para Alessandra Cavalcante, pediatra do Hospital São Luiz, em São Paulo, a razão do aumento da prescrição de medicamentos para TDAH não está relacionada a um excesso de diagnósticos, mas sim a um maior nível de informação de pais e médicos. "Isto é uma coisa boa, já que o transtorno, quanto mais cedo for tratado, menos problemas causará no futuro", diz a médica.

De fato, ao menos nos Estados Unidos, onde o levantamento foi feito, mais jovens estão sendo diagnosticados com TDAH e cada vez mais cedo. Um trabalho feito na Universidade de Northwestern e publicado em março deste ano também na revista Pediatrics mostrou que, em dez anos, o número de pessoas menores do que 18 anos diagnosticadas com o transtorno aumentou 66% no país. Além disso, em outubro de 2011, a Academia Americana de Pediatria reduziu a idade mínima para diagnóstico e tratamento de TDAH de seis para quatro anos.

Brasil — Embora um levantamento como esse não tenha sido feito no Brasil, Alessandra Cavalcante também percebeu na prática clínica o aumento dos tratamentos destinados a crianças com TDAH. Da mesma forma, ela acredita que os jovens brasileiros estão tomando mais remédios para asma e mais anticoncepcionais. "O aumento da incidência de asma é visível, especialmente em São Paulo, onde a poluição é forte. Além disso, como os jovens entram na vida sexual cada vez mais cedo, os contraceptivos estão se tornando mais comuns."

No entanto, a médica acredita que não tenha acontecido uma redução significativa nas prescrições de antibióticos a pacientes infantis. "Ainda temos um grande número de prescrições de antibióticos sem necessidade. Precisamos acabar com o culto ao pronto-socorro. As famílias devem, sempre que possível, procurar o pediatra que acompanha a criança e conheça o seu histórico", afirmou.

Fonte: Veja online

Livro para criança: Se é assim que você pensa!


Qual de nós é o maior?, perguntou o Corvo.
Ora, disse a Lebre, o que quer dizer com o maior? É o comprimento que conta? Ou talvez a altura? Ou ainda a distância que se pode atingir?
Nada disso, disse o Corvo. Quero dizer: qual de nós é na realidade o mais forte?
Ora, repetiu a Lebre, o que quer dizer com o mais forte? É a força com que você consegue fazer algo? Ou a velocidade com que você consegue fugir?

Diversos diálogos entre animais que vêem o mundo cada um do seu jeito. Conversas mantidas pelos personagens surgem questionamentos sobre tempo, cumplicidade, solidão, amizade, saudade, cíume, confiança, tédio, admiração etc. A criança percebe que às vezes o que é óbvio para um bicho nem sempre é óbvio para o outro. E não é assim com todo o mundo?

Autor: Geert De Kockere
Ilustrador: Joham Devrome
Editora Brinque book
Assunto abosdado: Fábulas, Valores Morais, Reflexão, Amizade, Admiração, Ciúmes, Tédio, Confiança

Gritar, ameaçar e humilhar uma criança são atitudes tão nocivas quanto bater

Seja aprovado ou não pelo Congresso Nacional, o projeto apelidado de "Lei da Palmada", que proíbe os castigos físicos e tratamentos degradantes de crianças e adolescentes pelos pais, já vem provocando mudanças. Desde 2003, quando começou a ser delineado, bater nos filhos tornou-se uma atitude politicamente incorreta, em especial depois que psicólogos, psiquiatras e educadores passaram a questionar seus resultados como medida educativa. É óbvio que é praticamente impossível saber o que acontece dentro dos lares, mas, hoje em dia, quem desfere uns tabefes, em local público, é alvo imediato de olhares de reprovação –e pode ter de dar explicações ao Conselho Tutelar. Some-se a isso os vídeos caseiros de flagrantes de violência e uma patrulha informal está formada.

Para os especialistas em comportamento, no entanto, não é só bater que é prejudicial e traumático. "Educar não é fácil. Não nascemos sabendo ser pais. Apesar de os tempos terem mudado, costumamos seguir os modelos que já conhecemos, de nossos pais e avós", explica o pediatra Moises Chencinksi. "E, se não se bate mais, por ser politicamente incorreto, e de fato inadequado, busca-se outras formas de ‘opressão’ para ‘educar’: gritar, castigar, xingar, ofender, humilhar...", declara. E, por essa lógica, o próprio especialista questiona: quem gosta de ser humilhado? Quem aprende algo assim? Quem pode ser feliz sendo tratado dessa forma?

Na opinião da psiquiatra Ivete Gianfaldoni Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo, primeiro é preciso entender que bater em um filho com a pretensão de educá-lo ou corrigi-lo é um engano, já que está apenas a serviço da descarga de tensão de quem pratica a violência. "Mas xingar, humilhar ou gritar, além de colaborar para que as crianças cresçam com medo e a autoestima prejudicada, nos afastam delas", afirma. Para Miriam Ribeiro de Faria Silveira, diretora do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo, quando os pais gritam o tempo todo com a criança demonstram muito mais desequilíbrio do que autoridade. "O pior é que elas também começam a gritar e ficam ansiosas, angustiadas e com muito medo, pois, onde deveriam ter seu porto seguro e soluções, encontram pais desesperados em se fazerem obedecer", diz.

A psicóloga Suzy Camacho concorda que a violência verbal é tão agressiva quanto a física, principalmente se os gritos tiverem uma conotação de ameaça: "Uma hora eu sumo e não volto nunca mais!", "Ainda vou morrer de tanta raiva", "Seu pai vai brigar comigo por sua causa!". "Diante de frases como essas, as crianças se sentem responsáveis por coisas que não são", explica Suzy. Ela também destaca o efeito devastador que os rótulos têm para a autoestima: chamar o filho de preguiçoso, bagunceiro, inútil, por exemplo. "Até os sete anos, a personalidade está em formação. Qualquer termo pejorativo pode marcar para sempre. Tente corrigir ou apontar a atitude, nunca uma característica", afirma. Exemplos? "Não gosto quando você deixa seu quarto desarrumado", "Você precisa prestar mais atenção no que eu falo" etc.

Para as crianças, a opinião dos pais e educadores a respeito de suas atitudes, da sua performance ou mesmo de seus atributos de beleza e inteligência são muito importantes na construção de uma personalidade. Ao perceberem que os pais não a admiram, elas tendem a se depreciar, o que pode culminar em casos de depressão, agressividade e fuga do convívio familiar. "Xingar e usar palavrões trazem consequências, pois é uma forma de depreciação. E como todas as crianças costumam copiar os pais, consequentemente, vão se comunicar dessa forma", diz Miriam Silveira. Já castigos cruéis despertam nas crianças a agressividade. "Nas mais extrovertidas observaremos atitudes hostis com adultos, com outras crianças e animais de estimação. Nas tímidas, as sequelas são angústia e ansiedade, sentimentos que podem impedir um desenvolvimento neuro-psíquico normal", diz Miriam.

Em muitos casos, a irritação e o cansaço causados por um dia difícil não conseguem ser controlados e o resultado acaba sendo a impaciência com os filhos. Os passos seguintes são a culpa, a frustração, a compensação para, no próximo dia, começar tudo de novo, num ciclo nocivo. Para os especialistas consultados por UOL Comportamento, a velha tática de contar até dez antes de tomar uma atitude drástica opera milagres. "Um adulto sabe que pegou pesado quando se sente angustiado. Dar um tempo freia essa sensação ruim e ajuda a esfriar a cabeça", conta a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria. "E se os pais, mesmo assim, extrapolarem, sempre recomendo pedir desculpas, porque um grito ou uma palavra mais pesada causa um abalo na segurança que o filho tem nos pais. Admitir que ficou triste com o que aconteceu, que estava bravo, que exagerou, demonstra respeito e ajuda a recuperar a confiança e o carinho", afirma ela.



Pequenos Rebeldes


É comum que crianças pequenas façam birra; algumas, no entanto, são propensas a crises mais violentas. Em certos casos, o acompanhamento profissional pode ajudar a evitar a agressividade crônica.
Isabela tem acessos de raiva no supermercado sempre que a mãe se recusa a comprar algo que ela quer. A pequena Beatriz berra ferozmente quando a mãe interrompe sua brincadeira para que tome banho ou mude de roupa. Vinícius, um adorável ruivo de pouco mais de 17 meses, morde móveis e brinquedos assim que alguém lhe diz “não”. Nesses momentos, parece inútil conversar com os pequenos de forma racional. Ameaças e punições também não detêm os gritos, a agitação e as agressões. Mas as cenas terminam de forma tão rápida como começaram e a própria criança, em geral, se aconchega junto aos adultos em busca de carinho. Em situações como essas é comum que os pais se sintam impotentes para controlar as crises.
Os acessos de mau humor são comuns em crianças que têm entre 15 e 18 meses. Na maioria dos casos, refletem apenas um estágio de desenvolvimento em que independência e vontade própria se chocam com imaturidade emocional e verbal. “Acessos de fúria fazem parte do desenvolvimento da criança”, diz o psiquiatra e terapeuta de família Manfred Cierpka, da Universidade de Heidelberg, Alemanha.

Os pais devem se preocupar apenas quando esses ataques de raiva ocorrem mais de cinco vezes por dia, sendo extremamente difícil acalmá-los. Durante esses acessos, os pequenos rebeldes podem destruir objetos ou se mostrar agressivos com adultos e outras crianças e, até se machucar ocasionalmente, arranhando-se até a pele sangrar ou batendo a cabeça contra a parede.

Ataques de fúria freqüentes, assim como manifestações autodestrutivas, merecem atenção profissional. Além de emocionalmente extenuantes para pais e filhos, podem ser indício de problemas psiquiátricos e de comportamento, como depressão e propensão para violência. A conduta pode ter origem em fatores genéticos, socioeconômicos ou ser conseqüência de negligência durante a gravidez, pelo fato de a mãe ter fumado, por exemplo, ou ainda pela forma como a criança é tratada pelas pessoas que cuidam dela. Os estudos mostram que adultos mais autoritários e menos flexíveis em suas atitudes tendem a estimular a agressividade nos filhos.

Contrariamente à idéia convencional de que violência se aprende durante a adolescência, pesquisas recentes mostram que comportamento agressivo, mesmo antes dos 2 anos, pode sinalizar problemas persistentes. Por isso, cada vez mais especialistas enfatizam a importância de evitar expor a criança a experiências dolorosas, principalmente durante os primeiros anos de vida. Infligir violência física aos pequenos pode causar a eles graves problemas psicológicos para toda a vida.

DESEJO DE INDEPENDÊNCIA

O fato é que – embora frustrantes e desagradáveis –, as explosões de raiva de crianças pequenas geralmente são controláveis. Elas expressam emoções que emergem de um cérebro imaturo. Os pais de Sara, de 2 anos e meio, estavam preocupados porque a filha gritava na creche quando a professora intervinha em brigas por brinquedos. “Em casa não conseguimos acalmá-la”, diz a mãe.

Quando os pais de Sara foram fazer uma consulta com Cierpka, no Instituto de Pesquisa Cooperativa Psicossomática e Terapia de Família, o psiquiatra viu poucos motivos para grandes preocupações. Depois de se entreter sem incidentes por mais de uma hora, a menina começou a brincar com a bolsa da mãe, que a arrancou das mãos de Sara. A garota pareceu perplexa e tentou pegar novamente o objeto. A mãe se apoderou da bolsa uma segunda vez dizendo: “O que é isto, Sara? Precisa realmente fazer isto, agora?”. Só então a criança começou a berrar.

Este comportamento é bem característico dessa fase. “Crianças na etapa dos ataques de raiva estão dando um salto gigantesco de desenvolvimento”, diz Cierpka. Não apenas as aptidões motoras estão aumentando rapidamente, permitindo que atuem com independência para explorar o ambiente ao redor, mas também, por volta dos 30 meses, começam a se perceber como indivíduos; como se, subitamente se reconhecessem em um espelho. “Essa percepção permite que uma criança tenha desejos independentes e entenda que suas ações provocam respostas de outros”, diz Cierpka.

O impulso de experimentação, combinado com a consciência das reações de outras pessoas, é uma receita freqüente para angústia, à medida que as explorações e desejos de uma criança pequena muitas vezes incitam “nãos” dos pais e daqueles que cuidam dela. Os adultos geralmente não deixam, por exemplo, que seus filhos comam biscoitos antes do jantar, peguem facas ou brinquem com a carteira de dinheiro da mãe.

Essas proibições provocam decepção e fúria – sentimentos negativos que são inteiramente novos para a criança. Sara, por exemplo, sente raiva com o fato de a bolsa ter sido arrebatada e decepção porque não pode fazer nada a respeito. “Todas essas emoções são extremamente fortes, difíceis de ser assimiladas pelos bebês”, ressalta Cierpka. Incapazes de expressar seus sentimentos com palavras, as crianças pequenas os descarregam com gritos irracionais e um frenesi físico, traduzido em ataques de raiva.

O conselho de Cierpka aos pais: reconheça os sentimentos de seu filho. Por exemplo, a mãe de Sara poderia ter dito calmamente à filha: “Sei que você está com raiva por causa da bolsa, mas ela não é para brincar”. Então, poderia distrair a filha – digamos, tirando um brinquedo da bolsa. Ou, se o pai quisesse interromper uma brincadeira para que a família saísse, poderia se oferecer para brincar com ela depois que voltassem para casa. Tais estratégias permitem que uma criança, como Sara, saiba que os pais estão do lado dela mesmo que ela esteja com raiva, o que acabará possibilitando reações mais elaboradas à angústia.

AGRESSIVIDADE CRESCENTE

Os ataques de irritação podem se tornar mais acentuados em crianças voluntariosas, que tendem a agir e pensar com maior independência que seus pares. Durante uma consulta com Cierpka, Vinícius chorou e berrou sem provocação, sacudiu a perna de uma mesa e a mordeu – uma atuação bem mais exagerada que a de Sara.

Em alguns casos, mais que um fenômeno passageiro, comportamentos excepcionalmente agressivos durante a infância podem ser sinal de problemas persistentes. Uma revisão da literatura, publicada em 1995 pela psicóloga Susan B. Campbell, da Universidade de Pittsburgh, sugere que crianças com problemas de comportamento aos 3 ou 4 anos têm cerca de 50% de possibilidade de apresentar problemas semelhantes no início da adolescência.

Nesses casos, agressão física é o principal motivo de preocupação. Para a maioria dos meninos – bem mais propensos à violência que as meninas –, socos, chutes e mordidas parecem atingir o auge no jardim-de-infância, e depois declinam entre 6 e 15 anos de idade. Em cerca de 4% dos meninos, esse comportamento persiste e eles são mais propensos a serem violentos aos 17.

Ataques extremos de raiva podem, em alguns casos, ser um sinal de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Em um estudo de 2007, os psicólogos Manfred Laucht, do Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, e Gunter Esser, da Universidade de Potsdam, ambos da Alemanha, estudaram os perfis de desenvolvimento e de comportamento, aos 2 anos, de 26 crianças do curso elementar que apresentavam transtornos semelhantes aos do TDAH. Eles os compararam aos perfis de 241 meninos e meninas saudáveis do primeiro grau, e constataram que os indicadores potenciais de TDAH incluíam agitação, irritabilidade e dificuldade em entender linguagem. Portanto, crianças pequenas que têm ataques de raiva violentos podem ser mais propensos a esses problemas de comportamento.

Genética e ambiente são fatores importantes para a formação do temperamento de cada pessoa. Em particular, aspectos genéticos respondem por mais da metade da variação entre as crianças no tocante à freqüência com que usam agressão física. A psicóloga Ginette Dionne e colegas da Universidade Laval, Québec, avaliaram os níveis de agressão em 562 gêmeos aos 19 meses. Em 2003, os pesquisadores relataram que 60% dos gêmeos idênticos estudados tinham esse traço em comum, enquanto apenas 28% dos gêmeos fraternos, que compartilham metade do genoma, eram semelhantes nos níveis de beligerância.

Atrasos na linguagem também podem intensificar a predisposição genética para comportamento disruptivo e agressivo. Estudos epidemiológicos mostram que entre 60% e 80% das crianças em idade pré-escolar e escolar, cuja fala se desenvolveu lentamente, exibem tais comportamentos, em comparação com 20% na população geral. Dionne- e colegas, que estimaram as aptidões de linguagem dos gêmeos em seu estudo, porém não encontraram associação forte entre linguagem e agressão por volta de um ano e meio de idade. Em muitos casos, a agressão surge antes de quaisquer problemas com a linguagem, sugerindo que um atraso na linguagem não causa, mas aumenta a agressão: as crianças podem ficar frustradas com a incapacidade de se comunicar, ou usar os punhos quando não conseguem produzir as palavras certas.

INFLUÊNCIA DOS PAIS

O comportamento parental, começando no útero, pode ter um efeito significativo no temperamento de uma criança. Em um estudo publicado este ano, o psicólogo Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, relatou que o tabagismo pesado (10 ou mais cigarros por dia) por parte da mãe durante a gravidez estava associado com agressão em 1.745 crianças nascidas em Québec, com idades entre 17 e 42 meses. Cientistas acreditam que o tabagismo perturba o desenvolvimento cerebral do feto.

Os psicólogos também estão convencidos de que a conduta dos pais influencia a estabilidade emocional dos filhos. Adultos que deixam uma criança angustiada fazer o que quiser ou que reagem de maneira autoritária estão procurando encrenca. As reações dos pequenos às regras negligentes ou draconianas costumam ser agitação, rebeldia e, em alguns casos mais raros, apatia.

Um estudo de 2008 com 1.508 crianças de escola elementar, realizado pela psicóloga clínica Mireille Joussemet, da Universidade de Montreal, corrobora a ligação entre agressão e comportamento controlador por parte das figuras parentais. Pais e mães autoritários gostam de exercer poder, dão valor à obediência e não incentivam o filho a expressar suas próprias opiniões. O estudo encontrou os fatores de risco habituais para comportamento agressivo (julgado, neste caso, pelos professores): ser do sexo masculino, ter temperamento reativo e problemas familiares, como pais instáveis, em constante pé de guerra. Mas, além destes fatores contribuintes, os pesquisadores descobriram que ter uma mãe controladora elevava ainda mais as chances de comportamentos agressivos (TDA/H) no ensino fundamental.

Em um estudo feito em 1996 com 69 famílias que criavam primeiros-filhos do sexo masculino, o psicólogo Jay Belsky, da Universidade de Londres, observou que os pais com maior dificuldade em controlar o comportamento dos filhos nas idades entre 15 e 21 meses eram os que davam ordens sem qualquer explicação. Eles não se preocupavam em dizer, por exemplo: “Não mexa nessa faca porque ela pode machucá-lo”. Pais que promovem diretrizes e democracia numa família têm maior probabilidade de ter filhos bem ajustados, acreditam os psicólogos.

Os fatores socioeconômicos e familiares também devem ser considerados. No estudo sobre o fumo, de 2008, por exemplo, os efeitos do tabagismo sobre a agressividade eram maiores se a família tivesse uma baixa renda ou a mãe apresentasse uma história de comportamento anti-social. E o estudo de Belsky, de 1996, concluiu que nas famílias consideradas problemáticas era maior o número de pais desajustados. Uma personalidade hostil pode, afinal de contas, “equipar” mal uma pessoa para lidar com sentimentos de frustração.

Além disto, conflitos conjugais contribuíam negativamente. Em particular, a dificuldade parecia florescer quando um dos pais expressava emoção negativa e, ao mesmo tempo, minava o papel parental do cônjuge – como interromper o outro ou dar instruções conflitantes ao filho. Em geral, a qualidade conjugal, contudo, não se revelou um fator importante nesse estudo.

No caso de Vinícius, Cierpka especula que problemas conjugais podem estar, em parte, na raiz dos seus ataques de raiva. O pai do menino é uma presença inconstante: sai de casa sem aviso prévio por longos períodos e não informa à esposa onde está nem o que está fazendo, o que a deixa magoada e ansiosa. Sem perceber o que faz, a mãe transmite a própria raiva e insegurança ao filho, cujos acessos de raiva podem representar um pedido desesperado de atenção, de que ele precisa para aliviar sua própria insegurança.

Cierpka também percebe um problema mais superficial: assim que Vinícius se irrita, a mãe o puxa até ela para consolá-lo. Essa ação tende a reforçar a conexão entre agitação hostil e amor. Cierpka aconselha a mãe a consolar o filho somente depois que ele tiver começado a se acalmar, recompensando-o por recuperar o equilíbrio.

PREVENÇÃO POSSÍVEL

Já que agressividade precoce pode ser um indício de violência futura, atividades que abrandam e previnem ações hostis em tenra idade podem ajudar a restringir o número de jovens que se tornam violentos. Embora nenhum programa pré-escolar tenha comprovado sua eficácia nesse sentido, estudos experimentais de prevenção sugerem o que poderia funcionar. Uma intervenção denominada “programa pré-escolar de Perry”, que se concentrou em impulsionar o desenvolvimento afetivo e cognitivo de crianças de baixa renda, com idades entre 3 e 4 anos nos Estados Unidos, reduziu significativamente o comportamento criminal nos homens.

Outra abordagem promissora poderia ser a exploração da ligação entre atraso na linguagem e a agressão, tendo como alvo as crianças que exibem o déficit e trabalhar com elas para superá-lo. Isso pode ser feito por meio de estimulação verbal intensa e também com acompanhamento psicoterápico para que tenham a chance de lidar com a própria frustração de forma menos destrutiva. Além disso, é possível ensinar às crianças práticas sociais, como ser prestativo, consolar os outros, partilhar e encontrar meios alternativos de reconhecer a própria raiva. Nos casos em que atitude parental autoritária se manifestar, uma psicoterapia dirigida pode ajudar a quebrar o ciclo de comportamento agressivo-opositivo na criança e a punição infligida pelos pais.

Pesquisas mostraram que pelo menos um gene influencia a agressão nos seres humanos. Homens que sofreram maus-tratos quando crianças tiveram probabilidade maior de serem condenados por um crime violento antes dos 27 anos, se possuíssem uma forma mais curta do gene para uma enzima chamada monoaminooxidase A. No futuro, à medida que os pesquisadores tiverem mais conhecimento genético sobre comportamento agressivo, esses achados moleculares poderão levar a medicamentos que poderão ser associados com ações comportamentais para combater tendências violentas em jovens.(Tradução de Vera Paula de Assis)

CONCEITOS-CHAVE

- Ataques de raiva ocasionais são normais nas crianças durante os primeiros três anos de vida, à medida que independência crescente se choca com imaturidade emocional e verbal.

- Acessos de fúria freqüentes, associados a atitudes autodestrutivas, como bater a cabeça ou arranhar-se, revelam indícios de comportamentos mais graves, incluindo propensão para a violência.

- Fatores genéticos são um dos motivos que desencadeiam agressividade infantil. As outras causas estudadas são o tabagismo durante a gravidez, atraso na linguagem, condição socioeconômica e certos estilos parentais. Ações preventivas com programas já na pré-escola podem reduzir o número de jovens que se tornam cronicamente violentos.

PARA CONHECER MAIS
A linguagem e o pensamento da criança. Jean Piaget. Martins Fontes, 1999.
Behavioural outcome of regulatory problems in infancy. J.-O. Larsson em Acta Pæediatrica, vol. 93, nº 11, págs. 1421-1423, 2004.
Controlling parenting and physical aggression during elementary school. Mireille Joussemet et al. em Child Development, vol. 79, no 2, págs. 411-425, de 2008.
Understanding development and prevention of chronic physical aggression: towards experimental epigenetic studies. Richard E. Tremblay em Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, vol. 363, nº 1503, págs. 2613-2622, 2008.

Fonte Revista Mente e Cérebro

Livro para pais: Psicologia das Habilidades Sociais na Infância


A literatura da área do Treinamento das Habilidades Sociais tem apontado a infância como um período crítico para a aprendizagem de habilidades interpessoais. Há evidências de que se a criança desenvolver um amplo repertório de comportamentos sociais terá mais probabilidade de estabelecer, futuramente, relações sociais mais saudáveis e com menor risco de rejeição por seus pares. Além desse fato, estudos sugerem que o desenvolvimento de habilidades sociais na infância pode se constituir em um fator de proteção contra a ocorrência de dificuldades de aprendizagem e de comportamentos anti-sociais.
A obra resenhada, pioneira no Brasil, aborda importantes questões do campo do Treinamento das Habilidades Sociais, configurando-se em um guia teórico-prático especificamente voltado para a população infantil. Dividida em três partes claramente delimitadas, a obra discute a aquisição e o desempenho das habilidades sociais na infância, tendo em vista seus principais contextos de desenvolvimento: o familiar e o escolar.

O filho como cabo de guerra: reflexões sobre divórcio e alienação parental

São muitas as responsabilidades dos pais na vida conjugal. A manutenção da qualidade do relacionamento afetivo-sexual, o provimento do sustento da casa e a educação dos filhos são alguns desafios que podem desencadear crises ou mesmo o divórcio. Neste contexto, comumente a criança é tão disputada quanto os bens do casal, que maneja estratégias que podem até ultrapassar a ética e o bom senso. Um exemplo disso é a utilização do filho para atingir o ex-cônjuge, que traz consequências nefastas ao desenvolvimento infantil. É delas que abordaremos hoje.

A Síndrome da Alienação Parental (SAP) não é um problema novo, embora os estudos tenham se iniciado na década de 80, através das pesquisas de Richard Gardner, professor de Psiquiatria Clínica do Departamento de Psiquiatria Infantil da Universidade de Columbia. Gardner a definiu como uma disfunção que surge no contexto das disputas de guarda, provocada pelo genitor que “programa” intencionalmente o filho para que ele rejeite o ex-cônjuge sem justificativa. O objetivo é fazer com que a criança ou o adolescente desenvolva afetos negativos em relação àquele genitor com quem não convive, causando prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos entre eles após o divórcio.

Especialistas da saúde mental criticam a SAP pelo fato de ela ainda não pertencer aos manuais de transtornos mentais, não sendo até então reconhecida por nenhuma associação profissional e científica por carecer de bases empíricas. De qualquer modo, não se pode negar essa realidade, pois está cada vez mais presente nos processos de guarda e regulamentação de visitas, sendo investigada nas varas de família e da infância e juventude. A prova disso é que foi aprovada no Brasil, em 26 de agosto de 2010, a Lei nº 12.318, que dispõe sobre a alienação parental. Em virtude disso, analisaremos a situação da criança diante da separação litigiosa dos pais, abordando os comportamentos que se enquadram na definição da SAP e a repercussão disso para o desenvolvimento infanto-juvenil.

Comecemos esclarecendo que o protagonista da alienação parental não necessariamente é genitor ou guardião: pode ser aquele que não detém o poder familiar, ou mesmo cuidadores que detém a guarda (avós e tios, por exemplo). Alguns autores, como Silva (2009) [1], destacam que amigos da família e profissionais que circundam a criança (obviamente, não se utilizando da ética no trabalho) também podem se comportar como alienadores, embora isso possa fugir ao conceito original.

Os comportamentos comumente efetuados pelo alienador são: dificultar o acesso do filho ao outro genitor (recusar-se a passar chamadas telefônicas, organizar atividades da criança no dia da visita, interceptar a correspondência do filho – seja ela virtual ou não), desvalorizar e insultar o outro genitor na presença da criança, responsabilizar o não-guardião pelo comportamento inadequado do filho, dentre outros.

Cabe ressaltar que medidas aparentemente inofensivas também constituem alienação parental, como omitir deliberadamente ao outro genitor informações pessoais e compromissos relevantes da criança (festas, consultas médicas, atividades escolares e extra-classe), apresentar o novo relacionamento amoroso aos filhos como “a sua nova mãe” ou “o seu novo pai”, mudar de domicílio sem justificativa e envolver terceiros na campanha difamatória contra o outro genitor.

Não há dúvidas de que tais atitudes provocam consequências negativas ao desenvolvimento infantil, uma vez que a criança tem o direito à convivência com ambos os pais (e famílias extensas), independente da qualidade atual e histórica do relacionamento conjugal. Através dessas condutas, o genitor alienador está fazendo uso de abuso emocional, violência que é silenciosa, mas que traz marcas mais profundas que a agressão física, além de prejudicar vínculos que precisam ser saudáveis para melhor desenvolvimento dos filhos. O alienador utiliza a criança ou o adolescente como instrumento de vingança para uma realidade que ainda não aceitou e se adaptou, não hesitando em usar diversos artifícios para dificultar a relação com o outro genitor. Dentre eles, a mais séria é a acusação de abuso, sobretudo o sexual.

Esse tipo de declaração, quando falsa, é grave não apenas pela eficácia no alcance do objetivo de atingir o outro, mas também pelas consequências emocionais que causa na criança. Ela é convencida da existência dos fatos e induzida a repetir a história nas instâncias judiciárias e nos consultórios médicos e psicológicos. Nesta frequente repetição, a criança passa a acreditar cada vez mais no que é dito, gerando o que chamamos de falsas memórias.

Quando uma pessoa se lembra de eventos que na realidade não ocorreram, seja de forma espontânea ou mesmo por sugestão externa, está fazendo uso de falsas memórias. As espontâneas decorrem de uma distorção interna da memória, através da auto-sugestão. Já as falsas memórias sugeridas surgem através da implantação externa ao sujeito, por meio da sugestão deliberada ou acidental de falsa informação. Resultados de pesquisas recentes [2] indicam que a memória se desenvolve com a idade e que a suscetibilidade à sugestão e à falsificação da memória são maiores em crianças mais jovens, sobretudo as pré-escolares (menores de 7 anos).

Ultrapassando o nível cognitivo, no âmbito comportamental verificamos também o efeito de fortalecimento de uma verbalização calcada em uma falsa memória. Por exemplo, diante de uma sugestão externa de que houve maus tratos à criança por parte do genitor não-guardião, ela pode ecoar essa resposta verbal, tendo reconhecimento e validação por parte sobretudo daquele que detém o poder familiar. Com o passar do tempo – e do fortalecimento desse comportamento através do reforço positivo – pode ocorrer de a criança comportar-se consoante com a falsa memória, apropriando-se do fato, de modo que esse comportamento cada vez mais será fortalecido, pois converge ao interesse do genitor alienador.

Diante da possibilidade de abuso sexual ou outro evento adverso, uma das estratégias para constatação do fato seria entrevistar a suposta vítima o mais próximo possível do evento, já que as crianças apresentam uma melhor qualidade de memória quando testadas imediatamente após o episódio. Cabe destacar que isso nem sempre é possível, uma vez que o tempo de tramitação dos processos judiciais (muitas vezes em ritmo moroso) por si só acomoda o filho na realidade tecida pela alienação, fato, portanto, aliado do próprio alienador.

Outro fato a ser considerado é o contexto aversivo em que se encontra a criança ou adolescente, que favorece o padrão de fuga e esquiva em relação a ambos os pais. Por exemplo, se após as visitas do filho à mãe, o pai faz repetidas perguntas para a criança e faz várias referências negativas a ela, denotando chateação pelo contato estabelecido entre ambos, é possível que, com o passar do tempo, o filho evite se encontrar com a mãe para evitar conflitos com o pai. Pode acontecer também de que, apesar de sentir saudades da genitora, o filho não expresse tal sentimento, pois se assim o fizer, poderá desagradar o genitor com quem ele convive. Ou seja, embora pareça rejeição ao contato materno motivado pela “lealdade” ao genitor guardião, isso na verdade diz respeito a uma operação de esquiva para evitar punições e represálias.

Nesse mesmo contexto, a criança também edita seu comportamento verbal (fala apenas aquela parte da verdade que não será punida), podendo fazer uso de contracontrole (mentiras), com a mesma finalidade de evitar punições. É uma situação extremamente ansiógena para a criança, que pode apresentar uma série de comportamentos que, não raro, se enquadram em um transtorno.

Em médio prazo, os efeitos da alienação parental podem ser: depressão, quadro de estresse, incapacidade de se adaptar aos ambientes sociais, comportamento hostil e agressivo, terrores noturnos, ansiedade excessiva, tendência ao isolamento, consumo de álcool e/ou drogas, apatia, retraimento social e sentimento de culpa. Em um clima de hostilidade entre os genitores desde o colapso do casamento e diante do processo de ruptura dos vínculos afetivos, a criança pode padecer de grande desconforto mental e físico, de modo que os sintomas podem até ser confundidos como consequências de abuso.

Outros efeitos igualmente danosos se referem àqueles que são constatados em longo prazo: além do agravamento dos sintomas supracitados, tem-se também a possibilidade de rompimentos definitivos de vínculos familiares, sentimentos de raiva contra o genitor alienador (quando o filho constata a realidade dos fatos) e sensação de culpa em virtude do tempo de vivência perdido em relação ao outro genitor.

É mister ressaltar também o estresse pelo qual passará a criança ou adolescente ao longo da tramitação judicial, que inclui uma série de eventos aversivos de exposição em exames de corpo de delito, entrevistas periciais e oitiva nos tribunais, tornando ainda mais delicado o processo de guarda e regulamentação de visitas.

Diante desse complexo contexto, algumas discussões adicionais se fazem necessárias. A primeira delas tange à relação entre distúrbios de comportamento e o padrão de relacionamento familiar anterior e posterior ao divórcio. Pesquisas recentes [3] apontaram que a presença de problemas comportamentais na infância não estaria relacionada unicamente à situação do divórcio parental, mas, sim, à sua exposição a conflitos intensos anteriores ao rompimento familiar. Ademais, pode-se inferir que a existência de relações conflituosas antes da separação, no entanto, aumenta a probabilidade de que haja relações conflituosas após o divórcio, sobretudo se pelo menos um dos cônjuges não tiver aceitado e se adaptado à nova condição civil, relacional e afetiva.

Para a detecção da alienação parental, o juiz pode atuar autonomamente ou lançar mão de uma perícia psicológica ou psicossocial. Se for constatada a alienação parental, a Lei nº 12.318 prevê uma série de penalidades, conforme a gravidade do caso: advertência, ampliação do regime de convivência familiar em favor do genitor alienado, multas ao alienador, alteração da guarda, suspensão da autoridade familiar, entre outras.

Com o conhecimento das consequências negativas quando se utiliza de práticas abusadoras e alienadoras, uma reflexão se faz pertinente: é melhor submeter seu filho às frustrações de um relacionamento conjugal, prejudicando seu desenvolvimento biopsicossocial, ou trabalhar seus comportamentos e emoções visando uma melhor adaptação à nova realidade?

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[1] Silva, D.M.P. (2009). Psicologia jurídica no processo civil brasileiro. A interface da psicologia com o direito nas questões de família e infância. Rio de Janeiro: Forense.
[2] Neufeld, C.B.; Stein, L.M. (2003). Falsas memórias em pré-escolares: uma investigação experimental e suas implicações. In M.Z.S. Brandão (Org.). Sobre Comportamento e Cognição: clínica, pesquisa e aplicação, v. 12 (PP. 453-468). Santo André: Editora ESETec Editores Associados.
[3] Benetti (2006), cuja fonte original pode ser conferida aqui
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Juliana de Brito Lima é Psicóloga (CRP 11ª/05027), formada pela Universidade Estadual do Piauí e especializanda em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento – IBAC. É membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC e Psicóloga do Centro Integrado de Educação Especial – CIES e da Clínica Lecy Portela, em Teresina-PI. Tem experiências acadêmicas (linha de pesquisa “Desenvolvimento da criança e do adolescente em situações adversas” do Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná/ NAC-UFPR) e profissionais na área clínica (atendimento a criança, adolescente e adulto), jurídica e educação especial, na orientação de pais.
Fonte: Instituto de Psicologia Aplicada - InPA
Telefone - (61) 3242-1153