Quando sou mãe
sou muito séria.
É muito bom
poder diminuir os compromissos e aproveitar os pequenos prazeres que
normalmente não podemos usufruir por falta de tempo. E quando nossos filhos
entram nas tradicionais férias escolares de certa forma também tiramos férias.
Não precisamos reforçar a hora de fazer a lição de casa, das atividades
extra-curriculares. Ou seja, não precisamos ser tão rígidos com as regras de
maneira geral e temos mais tempo para curtir nossos filhos com mais
tranquilidade. O problema está na hora de restabelecer o funcionamento do
código de regras.
Se nós adultos
temos dificuldade de reimprimir o rítimo após uma temporada de descanso na casa
de praia, imaginem as crianças.
A partir do
inécio de fevereiro, a maioria das escolas voltam a funcionar normalmente.
Como sou mãe sei que esse período de readaptação não é dos mais fáceis nem para
as crianças nem para os pais.
Conversei com
a psicóloga comportamental Jaíde A. Gomes Regra, que trabalha com crianças e
adolescentes, sobre quais são as melhores formas de fazer com que a volta as
aulas sejam o menos estressante possível no ambiente familiar.
Jaíde defende
uma divisão de três grupos familiares:
- grupo
1 é o tipo que não abre mão das regras independente da relação acadêmica;
- grupo
2, não tão firme quanto o primeiro, tem os limites e regras como algo frágil,
facilmente quebráveis.
- grupo
3 é o mais permissivo, no qual a família mantém um alto limiar com relação as
regras, como se fossem férias o tempo todo.
As famílias
que adotam características do grupo 1 tem muito menos dificuldade em
reorganizar a rotina das crianças por ser um contínuo do dia-a-dia. As crianças
desse grupo enfrentam melhor a frustração, tornando a convivência mais fácil.
As do grupo 2 já sentem uma certa dificuldade na hora de arrumar as ordens do
dia. Já o grupo 3, Jaíde sustenta que até durante as férias a família passe por
momentos de estresse, afinal as crianças não se acostumaram a lidar com as
frustrações de um "não". Geralmente são crianças que fazem birra e
choram muito para tentar, até o último instante, fazer com que os pais cheguem
nos seus limites pessoais e desistam de manter suas atitudes.
É importante
que os pais determinem quais dos grupos eles se encontram para poder saber se o
problema está nas crianças ou neles mesmo. No livro "Pais Liberados.
Filhos Liberados", Adele Faber e Elaine Mazlish mostram o quanto nós pais
somos o reflexo da auto-imagem da criança. Muitas vezes nós mesmo construímos
todos os comportamentos que não gostamos nas crianças e de maneira tola. Sem
parar para observar as nossas pequenas atitudes que são capazes de instalar
grandes e duradouros problemas nos nossos filhos. A exemplo dos rótulos, que
mesmo quando são usados por nós na brincadeira, a criança absorve aquela visão
e passa a agir como tal.
Na relação
pais e filhos, bem como em outras áreas da vida, é preciso alinhar o discurso e
a concretização dele. Isso gera confiança da criança em relação aos pais e
clareza dos seus limites. Afinal as crianças são muito inteligente, sabem muito
bem quem são as pessoas que elas podem levar na sua manha com manipulações
conscientes ou inconscientes. Para Jaíde o ato de brigar deve sempre ser
substituído pelo brincar. A briga ou o castigo levam a criança a diminuir o seu
senso de autocrítica, vitimar-se e culpar o punidor, aumentando a tensão entre
a relação. No entanto, a brincadeira, o reforço positivo para as atitudes das
crianças atinge uma "área
de recompensa no cérebro" levando a criança a se sentir
satisfeita com suas próprias atitudes.
Dicas para levar
seu filho numa boa
A psicóloga
diz que o castigo pode ser substituído pelo que ela chama de
"combinado". Ou seja, é possível fazer acordos com a criança.
"Não se deve mandar a criança ir fazer a tarefa na hora em que ela está
assistindo ao seu desenho favorito. O que geraria uma enorme insatisfação e
aumentaria a impulsividade comprometendo o autocontrole. Se ela souber que pode
assistir ao desenho assim que acabar a tarefa, é possível que ela se esforce
muito mais pela consequência dos seus atos" diz Jaíde.
Fixar um
quadro de regras e comportamentos no quarto também é uma maneira de tornar as
atitudes da criança numa brincadeira e estabelecer visualmente para ela qual é
a quantidade de erros e acertos e quais as consequências que isso gera nos
acordos. "Se a criança faz uma coisa certa, a mãe pode fazer uma
brincadeira rápida de 2 minutos dando assim uma qualidade de atenção ao feito
da criança." explica.
A Escola
É muito
importante que os pais tenham um contato sólido com a escola no sentido de
alinhar funcionamentos e diminuir espaços na atuação da criança. A dica é
procurar a professora depois de aproximadamente 20 dias após a volta das
atividade escolares para saber como está o comportamento do seu filho e fazer
com que ele saiba que tem a responsabilidade de sustentar as suas atitudes
tanto em casa quanto na escola.
Nós pais
amamos nossos filhos e a eles só queremos o melhor, então não podemos esquecer
que é muito mais fácil para nós brincar com eles, do que para eles sustentar
uma briga conosco. A minha dica é: vire criança com o seu filho! Mesmo que você
chegue cansado, ele vai ajudar lhe a relaxar e ainda vai ganhar uma excelente
qualidade de atenção e comunicação com você, estreitando laços. Além do mais,
dedicar um tempinho para ser criança nos ajuda a rejuvenescer.
**Jaíde Aparecida Gomes Regra possui
graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(1968) , mestrado em Psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de
São Paulo (1973) e doutorado em Psicologia (Psicologia Experimental) pela
Universidade de São Paulo (2003) . Tem experiência na área de Psicologia , com
ênfase em Psicologia do Ensino e da Aprendizagem. Atuando principalmente nos
seguintes temas: Sessões, Emoçes, Aprendizagem.
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